Filmes Legais
MARATONA VIVA DJANGO!
Em 6 de abril de 1966,
"Django" estreou nos cinemas de Roma e Franco Nero arrastou pela primeira vez o seu velho caixão de conteúdo misterioso pela lama. Ali surgia um ícone do bangue-bangue. E quando o sucesso de bilheteria do filme dirigido por Sergio Corbucci
atingiu números impressionantes, cifrões devem ter aparecido nos olhos de todo diretor ou produtor em atividade na Itália. Alguns não perderam tempo e deram sinal verde para a realização de novas aventuras com o personagem, estas "não-oficiais", por não terem o envolvimento direto de Sergio Corbucci, Franco Nero ou dos demais realizadores do filme original. Mesmo assim, tinham
"Django" grandão no pôster e títulos bem chamativos para seduzir os espectadores que tinham gostado do original.
Num primeiro momento, produtores espertinhos se contentaram em mudar o nome dos filmes que estavam terminando na mesma época do sucesso de
"Django". Eles provavelmente pensavam que bastava trocar o nome do personagem principal, ou apenas colocar um
"Django" avulso no título, e torcer para dar certo. Assim, até mesmo obras anteriores à de Corbucci, como o western espanhol
"Mestizo", foram instantaneamente transformadas em filmes do Django em busca de dinheiro fácil!
Num segundo momento, a italianada começou a filmar novas aventuras do personagem, mas sem Franco Nero e sem nenhuma relação com o filme de Corbucci. Por isso mesmo, estes "Djangos genéricos" tinham bem pouco em comum com o "legítimo". Geralmente eram histórias independentes, onde às vezes Django aparecia casado, às vezes noivo, outras vezes era solteirão convicto; às vezes era caçador de recompensas, mas em outras era simplesmente um pistoleiro em busca de vingança. Enfim, a única coisa que importava era o nome do personagem: Django!
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Lobby card de "Django" (1966) |
E não é que funcionou? Só o "Django" no cartaz já bastava para muitos espectadores voltarem ao cinema, numa época em que não havia muitas fontes para se pesquisar sobre cinema, e portanto não dava para saber se o filme era uma produção oficial ou não, se tinha uma mínima relação com o original de Corbucci ou não. Apareceram tantos "Djangos genéricos" entre 1967 e 1971 que os críticos de cinema italianos criaram até uma definição oficial para as cópias:
Sotto-Djangos (em português,
"Sub-Djangos").
Pois eis que nesta sexta-feira, 18 de janeiro de 2013, Django volta à tela grande no novo filme de Quentin Tarantino,
"Django Livre". Além de trazer um pistoleiro negro interpretado por Jamie Foxx com o mesmo nome do clássico personagem de Sergio Corbucci, Tarantino ainda fez uma dupla homenagem colocando o Django original, Franco Nero, numa participação especialíssima, que deve deixar os fãs de western spaghetti com lágrimas nos olhos!
E se um novo filme do Tarantino é sempre um acontecimento festejado para os cinéfilos do mundo, aqui no
FILMES PARA DOIDOS não poderia ser diferente. Por isso, preparem-se para ficar de saco cheio do nome Django: a partir desta sexta-feira, e pelas próximas duas semanas, o blog realiza a ambiciosa
MARATONA VIVA DJANGO!, com resenhas diárias dos 14 filmes, oficiais ou não, protagonizados por um personagem chamado Django!
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Lobby card de "Django" (1966) |
Eis a lista das resenhas que você verá nas próximas duas semanas:
DJANGO (1966)
DJANGO ATIRA PRIMEIRO (
Django Spara per Primo, 1966)
DJANGO NÃO ESPERA... MATA (
Non Aspettare Django, Spara, 1967)
O FILHO DE DJANGO (
Il Figlio di Django, 1967)
10.000 DÓLARES PARA DJANGO (
10.000 Dollari per un Massacro, 1967)
VIVA DJANGO! (
Preparati la Bara, 1968)
DJANGO, O BASTARDO (
Django, Il Bastardo, 1969)
DJANGO DESAFIA SARTANA (
Quel Maledetto Giorno d'inverno... Django e Sartana all'ultimo Sangue, 1970)
DJANGO E SARTANA NO DIA DA VINGANÇA (
Arrivano Django e Sartana...È la Fine!, 1970)
DJANGO X SARTANA - DUELO MORTAL (
Django Sfida Sartana, 1970)
DJANGO CONTRA 4 IRMÃOS (
Anche per Django le Carogne Hanno un Prezzo, 1971)
UM HOMEM CHAMADO DJANGO (
W Django!, 1971)
UMA BALADA PARA DJANGO (
Giù le Mani... Carogna, 1972)
DJANGO, A VOLTA DO VINGADOR (
Django 2: Il Grande Ritorno, 1987)
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Lobby card de "Django" (1966) |
Como existem muitos filmes que foram renomeados para virar aventuras de Django, mas que não foram originalmente produzidos como tal, a seleção para a Maratona observou os seguintes critérios: a obra deveria ter mão-de-obra italiana, o nome Django no título e um personagem que fosse chamado pelo menos uma vez por este nome no idioma original de realização (italiano), e não apenas nas redublagens picaretas feitas por distribuidores como os alemães, que, muito fãs da obra de Corbucci
, colocaram este nome em dezenas de westerns sem qualquer relação com o personagem.
Nestes 14 filmes, Django teve nove faces diferentes, emprestadas por oito atores ALÉM de Franco Nero (veja abaixo). Claro que a encarnação original é a mais icônica, mas quais serão os outros dignos de nota entre os Djangos não-oficiais? É isso que você vai descobrir acompanhando esta Maratona. Caso você não goste de western, muito menos o spaghetti, recomenda-se ficar bem longe do
FILMES PARA DOIDOS pelas próximas duas semanas!
Antes que a Maratona comece e os Djangos iniciem seu desfile, gostaria de dividir com vocês algumas curiosidades sobre o personagem e suas encarnações. São algumas coisinhas que você provavelmente não vai ler em nenhum outro lugar, e que vale a pena saber - principalmente para quando você for trocar uma ideia com aquele seu amigo cinéfilo mala que vai sair da sessão de
"Django Livre" pensando que sabe tudo sobre western spaghetti.
Por exemplo...
* Franco Nero, o Django oficial, foi o único a aparecer numa sequência direta do filme de Corbucci,
"Django, A Volta do Vingador". Mas, tendo estrelado "apenas" duas aventuras do personagem, não detém a honra de ser seu maior intérprete. Esta coube a Jack Betts (conhecido pelos fãs de western pelo pseudônimo "Hunt Powers"), que interpretou Django em três aventuras baratas dirigidas por Demofilo Fidani:
"Django e Sartana no Dia da Vingança",
"Django Desafia Sartana" (exibido nos cinemas brasileiros como
"Django e Sartana Até o Último Sangue")
e
"Uma Balada para Django".
* Além de Franco Nero e seus dois filmes oficiais do personagem, Anthony Steffen também interpretou Django em dois filmes, mas estes não-oficiais (
"Django, O Bastardo" e
"Um Homem Chamado Django"). A bem da verdade, Steffen empataria em 1º lugar com Jack Betts se também considerássemos
"Poucos Dólares para Django" como uma aventura do personagem; mas como o nome Django só aparece no título, e no filme seu personagem se chama Regan, a obra não foi contabilizada.
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Demofilo Fidani, que dirigiu três Djangos não-oficiais |
* Embora Sergio Corbucci tenha dado o pontapé inicial, Demofilo Fidani foi quem mais dirigiu aventuras de Django, as mesmas três acima citadas. Em segundo lugar vem Edoardo Mulargia, que dirigiu outros dois filmes não-oficiais:
"Django não Espera... Mata" e
"Um Homem Chamado Django".
* E Demofilo Fidani - novamente ele - também foi o roteirista que mais escreveu aventuras de Django, tendo assinado os três filmes anteriormente citados em parceria com Mila Vitelli Valenza (menos
"Uma Balada para Django", que escreveu sozinho). Em segundo lugar estão empatados, com dois filmes cada, Tito Carpi, que escreveu
"Django Atira Primeiro" e
"O Filho de Django", e Franco Rossetti, o único roteirista do
"Django" original (ainda que lá estivesse creditado como
"collaborating writer") a escrever uma aventura não-oficial do personagem,
"Viva Django!".
* Gianni Garko e Jeff Cameron foram os únicos atores a interpretar dois ícones do western spaghetti, Sartana E Django. Enquanto Garko foi o Sartana oficial da série e fez
"10.000 Dólares para Django", Cameron interpretou ambos em aventuras não-oficiais dos personagens: o primeiro em
"Sou Sartana... Venham em 4 para Morrer" aka
"Quatro Pistoleiros para Sartana" (1969), dirigido por - de novo ele! - Demofilo Fidani, e o outro em
"Django Contra 4 Irmãos", dirigido por Luigi Batzella.
* O toque brasileiro nos
"Sotto-Djangos" não se limita apenas à presença de Anthony Steffen, que era filho de pai brasileiro (seu nome de batismo era Antonio Luiz De Teffè), em duas aventuras do personagem. Outros dois atores tupiniquins envolvidos nestas obras são Celso Faria, que integrou o elenco de 5 produções (
"Django não Espera... Mata",
"Django, O Bastardo",
"Django e Sartana no Dia da Vingança",
"Django Desafia Sartana" e
"Uma Balada para Django"), e a linda Esmeralda Barros, que apareceu em duas (
"Django Contra 4 Irmãos" e
"Um Homem Chamado Django").
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A brasileira Esmeralda Barros em "Django Contra 4 Irmãos" |
* Os únicos atores do
"Django" original a voltarem em aventuras não-oficiais do personagem foram Luciano Rossi (que também fez
"O Filho de Django",
"Viva Django!" e
"Django, O Bastardo") e Loredana Nusciak, que voltou como interesse romântico de um outro Django em
"10.000 Dólares para Django".
* Pode parecer difícil de acreditar, mas aquele Django quase invencível, que enfrentou os 40 homens do Major Jackson sozinho no filme de Corbucci, acabou comendo capim pela raiz em
"O Filho de Django", de Osvaldo Civirani. Pior: seu personagem foi morto da maneira mais estúpida possível, à traição, com tiros nas costas, sem contar sequer com um último duelo à altura da lenda! Com o covarde assassinato, o posto de herói nesta aventura passa para o seu filho, Jeff, interpretado por Gabriele Tinti!
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O clone de Django na cena inicial de "Vou, Mato e Volto" |
* Django também virou piada no western
"Vou, Mato e Volto" (1967), de Enzo G. Castellari, cuja cena inicial mostra clones de personagens conhecidos do gênero (o Homem Sem Nome e o Coronel Mortimer da "Trilogia do Dólar" e, claro, um sósia de Franco Nero) sendo mortos pelo pistoleiro interpretado por George Hilton. Ironicamente, quando o filme foi lançado na Alemanha, os distribuidores mudaram o título para
"Leg Ihn Um, Django" (algo como
"Mate-o, Django", ou
"Derrube-o, Django" em tradução literal), e o pistoleiro anônimo de Hilton passou a chamar-se Django! Portanto, esse deve ser o único caso da história em que vemos um duelo "Django contra Django"!
* Enquanto muitos realizadores faziam suas aventuras não-oficiais de Django sem a menor vergonha na cara, o italiano Edoardo Mulargia tentou ser um pouquinho mais sutil: ele dirigiu dois filmes com novos personagens cujos nomes eram "ligeiramente semelhantes" com aquele criado por Sergio Corbucci. O primeiro foi
"Cjamango - O Vingador" (1967), com Ivan Rassimov no papel-título. O segundo, em 1970, foi
"Shango - A Pistola Infalível", desta vez com Anthony Steffen como Shango (nome que parece ser um cruzamento do Shane, de
"Os Brutos Também Amam", com Django). Curiosamente, Mulargia também dirigiu dois
"Sotto-Djangos" com os mesmos dois atores:
"Django não Espera... Mata", com Rassimov, e
"Um Homem Chamado Django", estrelado por Steffen!
* Os turcos, grandes fãs de western spaghetti e notórios plagiadores do cinema alheio, também tentaram lançar seu próprio Django. Isso aconteceu em
"Cango Korkusuz Adam" (
"Cango, Um Homem Destemido", em tradução literal para o português), dirigido por Remzi Jöntürk em 1967. O bizarro é que o Django turco, rebatizado "Cango" (hehehe), enfrenta o vilão Kiling, aquele bandido que veste um uniforme em forma de esqueleto, mesmo que um personagem seja do Velho Oeste e o outro um criminoso contemporâneo (não espere lógica nos filmes turcos).
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Cango, o Django turco, chega na moça com a pistola em riste! |
* Por último, mas não menos importante, Django foi um sucesso tão grande no Brasil que deu origem a três "Sub-Djangos" tupiniquins. O único que é um faroeste sério é
"D'Gajão Mata Para Vingar" (1972), dirigido por José Mojica Marins, com Walter Portella no papel do cigano e pistoleiro D'Gajão. Os outros dois são sátiras:
"Uma Pistola para Djeca" (1969), de Ary Fernandes, com Amácio Mazzaropi no papel de um pistoleiro atrapalhado, e o engraçadíssimo
"Um Pistoleiro Chamado Papaco" aka
"Os Amores de um Pistoleiro" (1986), de Mário Vaz Filho, impagável pornô da Boca do Lixo que traz Fernando Benini como Papaco, um clone de Django que também aparece arrastando um caixão com uma surpresa dentro... e desta vez não é uma metralhadora!
* Além de três filmes, Django também ganhou suas próprias histórias em quadrinhos aqui no país, produzidas por Rodolfo Zalla para a revista de faroeste
"Johnny Pecos", que teve vida curta entre 1981-82.
O herói estrelou duas aventuras publicadas nos números 3 e 4 do gibi, ambas mostrando a caçada a um bandidão mexicano chamado Pancho. Até onde eu sei (e se estiver errado, me corrijam), esta foi a única adaptação de Django para os quadrinhos no mundo, o que não deixa de ser irônico se considerarmos a popularidade das HQs de faroeste (como "Tex" e "Zagor") na Itália! Saiba mais clicando aqui.
* E quem diria: uma aventura brasileira de cangaceiros foi rebatizada para virar um faroeste estilo
"Django" na Itália! Trata-se de
"O Cabeleira" (1963), filme dirigido por Milton Amaral, com roteiro baseado no famoso livro de Franklin Távora, cuja trama se passa no Pernambuco do século 18, bem longe do Velho Oeste! Mesmo assim, nos cinemas italianos
"O Cabeleira" foi lançado anos depois, em 1968, com o escalafobético título
"Se Incontri Sjango, Cercati un Posto per Morire" (
"Se Encontrar Sjango, Procure um Lugar para Morrer"), tornando-se assim o único caso de "sub-Django" cangaceiro da história do cinema! Consta que a obra foi reeditada e ganhou nova trilha sonora produzida por Piero Umiliani, com direito à canção-título "Sjango" nos créditos iniciais e um pôster mais ao estilo do western spaghetti, com o que parece ser um pistoleiro mexicano em destaque ao invés do cangaceiro!
FILMES DO DJANGO SEM DJANGOEnquanto os 14 filmes da nossa Maratona têm personagens principais que são chamado pelo menos uma vez pela alcunha "Django", uma cacetada de outras produções traz o famoso nome apenas nos títulos, mas nenhum Django dá as caras nas tramas, para o desespero dos fãs que eram enganados por este marketing bem suspeito.
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Robert Woods foi Django 3 vezes, mas só nas versões alemãs! |
A picaretagem teve duas fases: a primeira foi entre 1966 e 1967, quando o sucesso do filme de Corbucci incentivou distribuidores a pegarem filmes recém-concluídos ou em finalização e mudar seus títulos, transformando-os "à força" em aventuras do Django, mesmo que os personagens principais tivessem outro nome antes. Assim, muitos atores acabaram "interpretando Django" sem saber!
É o caso, por exemplo, de
"Django Volta para Matar", um western espanhol dirigido por Julio Buchs um ano antes do
"Django" de Corbucci estrear! Hugo Blanco interpretava um pistoleiro chamado Peter, e o filme chamava-se originalmente
"Mestizo". Mas aí
"Django" estreou, fez sucesso e os distribuidores resolveram rebatizar
"Mestizo" para o lançamento em outros países, inclusive a Itália, onde virou
"Django Non Perdona" (tradução:
"Django Não Perdoa"). Os brasileiros caíram no conto do vigário e o exibiram nos cinemas com o título
"Django Volta para Matar", mas não tem nenhum Django no filme.
Outro exemplo curioso é o de
"Poucos Dólares para Django", western ítalo-espanhol dirigido por León Klimovsky e Enzo G. Castellari em 1966, e já citado lá em cima. Apesar do título espanhol original ser
"Alambradas de Violencia", e de Anthony Steffen interpretar um pistoleiro chamado Regan, os realizadores resolveram mudar o título para vender o filme como mais uma aventura de Django.
Só que eles fizeram a troca de título tão rápido que se enganaram e grafaram o nome do pistoleiro como
"Diango" nos créditos iniciais! E a alteração também foi só nome do filme: o protagonista interpretado por Steffen nunca é chamado de Django ou "Diango" na versão italiana ou nas legendas em inglês.
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Django foi erroneamente grafado como "DIANGO" no título italiano |
Sobrou também para o western espanhol
"El Proscrito del Río Colorado" (1969), de Maury Dexter, que tinha George Montgomery como o herói originalmente batizado Ray O'Brien. Quando o filme foi distribuído na Itália, virou
"Django, Killer per Onore" (
"Django, Matador por Honra", em bom português). A "adaptação" também aconteceu nos EUA (onde virou
"Django, O Matador Honrado") e na Dinamarca (onde foi transformado em
"Django Vem com a Morte").
Os distribuidores norte-americanos rebatizaram diversos outros faroestes italianos daquele período para transformá-los em aventuras de Django.
"La Più Grande Rapina del West", dirigido por Maurizio Lucidi em 1967, virou
"Halleluja for Django" nos EUA e na Alemanha, apesar do protagonista George Hilton interpretar um pistoleiro chamado Billy 'Rum' Cooney. No Brasil, o título original
"A Grande Rapina do West" foi usado nos cinemas e na época do VHS, mas o enganoso
"Aleluia para Django" foi adotado no recente relançamento em DVD pela Ocean.
Os ianques também rebatizaram o filmaço de Giulio Questi
"Se Sei Vivo Spara" (
"Se Você Viver, Atire!"), de 1967, como
"Django Kill... If You Live, Shoot!". Na trama, Tomas Milian interpreta um mestiço anônimo, a quem jamais se referem como Django ou qualquer outro nome. Mesmo assim, Django apareceu nos títulos em vários países. Nos cinemas brasileiros, o filme foi exibido primeiro com um título genérico (
"O Pistoleiro das Balas de Ouro"), mas logo o apelo do nome falou mais alto e ele foi rebatizado
"Django Vem para Matar" em DVD.
"L'Ultimo Killer", dirigido por Giuseppe Vari em 1967, também foi transformado em aventura de Django nos Estados Unidos. Este western traz George Eastman como um mexicano que recebe lições de um veterano pistoleiro chamado Rezza (interpretado por Dragomir Bojanic). Nos EUA, Rezza foi rebatizado como Django e o título mudou para
"Django, The Last Killer". O mesmo aconteceu no Brasil, onde o filme chegou aos cinemas como
"Django, O Matador" - uma picaretagem corrigida nos relançamentos em VHS (como
"O Último Matador" pela Sagres) e DVD (como
"O Último Assassino" pela Ocean).
Mas bizarro mesmo é o caso de
"Keoma", um western spaghetti tardio estrelado por Franco Nero e dirigido por Enzo Castellari em 1976. Para aproveitar a presença de Nero, os distribuidores norte-americanos optaram por exibir
"Keoma" como se fosse sequência direta do
"Django" de Corbucci, lançando-o com títulos enganosos como
"Django Rides Again" e até
"Django's Great Return"!
Por sinal, o pobre Nero ficou tão marcado como Django que quase todos os seus trabalhos posteriores foram rebatizados com o nome do personagem quando lançados na Alemanha - onde o filme de Corbucci foi um grande sucesso de bilheteria.
Assim,
"Adeus, Texas" (
"Texas, Adios", 1966), de Ferdinando Baldi, virou
"Django, Der Rächer" (
"Django, O Vingador") e até
"Django 2" (!!!) lá na Alemanha, embora o personagem de Nero na película originalmente se chamasse Burt Sullivan.
"Tempo de Massacre" (
"Tempo di Massacro", 1966), de Lucio Fulci, também não tinha nada a ver com Django. Mas, por causa da presença de Franco Nero no papel do pistoleiro Tom Corbett, virou
"Django - Seu Hino Era o Colt" (!!!) na Alemanha.
E o que dizer de
"O Homem, O Orgulho e a Vingança" (
"L'Uomo, L'Orgoglio, La Vendetta", 1968), uma espécie de versão western da história de
"Carmen" dirigida por Luigi Bazzoni, e com Franco Nero no papel do soldado espanhol Don José? Pois os alemães não pensaram duas vezes em rebatizá-lo como
"Django Trouxe a Morte". No Brasil, o filme passou nos cinemas com uma tradução literal do título original, depois saiu em VHS como
"Traído pelo Ódio", e mais recentemente a Ocean entrou na onda dos alemães e relançou-o em DVD como
"Django Não Perdoa, Mata"!
Mas o caso mais absurdo é o da aventura
"O Caçador de Tubarões" (
"Il Cacciatore di Squali", 1979), de Enzo Castellari, que sequer é um filme de faroeste, e traz Franco Nero como Mike di Donato, o "caçador de tubarões" do título. Acredite se quiser, mas na Alemanha a obra foi rebatizada como
"Dschungel-Django" - em português,
"Django e os Tubarões"!!!
Como já deu para perceber, os distribuidores alemães eram os reis da picaretagem envolvendo o nome do personagem: praticamente todo western spaghetti produzido entre 1966-1971 foi rebatizado para virar aventura de Django por lá, sem muito critério ou bom senso.
"Rattler Kid - Se Queres Viver... Atira" (
"Un Hombre Vino a Matar", 1967), dirigido por León Klimovsky, tem um pistoleiro chamado Tom Garnett que usa o apelido "Rattler Kid" (interpretado por Richard Wyler). Mesmo assim, na Alemanha o filme virou
"Django, Insaciável como Satanás"!!!
"Bill, Il Taciturno" (1968) é outro belo exemplo. Como o título indica, o filme de Massimo Pupillo pretendia lançar um novo personagem, chamado "Bill, O Calado" e interpretado por George Eastman. Mas os distribuidores alemães não pensaram duas vezes em mudar o nome do herói para Django e o título para
"Django Mata Suavemente". O mesmo aconteceu nos EUA (
"Django Kills Softly"), na França (
"Django, Le Taciturne") e no Brasil, onde ele foi exibido como
"Django Mata em Silêncio"!
Já o caso do ator norte-americano Robert Woods é no mínimo pitoresco: ele interpretou Django três vezes, mas provavelmente nunca ficou sabendo disso! Na realidade, Woods jamais interpretou Django, mas três westerns que ele fez na Itália foram rebatizados com o nome do personagem lá na Alemanha:
"O Maldito Dia do Fogo" (
"Quel Caldo Maledetto Giorno di Fuoco", 1968), de Paolo Bianchini, em que Woods interpretava um pistoleiro chamado Chris Tanner, virou
"Django Não Reza a Deus" na Alemanha;
"Um Bandoleiro Chamado Black Jack" (
"Black Jack", 1968), de Gianfranco Baldanello, virou
"De Joelhos, Django, e Lamba as Minhas Botas" (Santa criatividade, Batman!!!) para os alemães; por fim,
"Starblack" (1968), de Giovanni Grimaldi, em que Woods interpretava um herói chamado Johnny 'Colt' Blyth e apelidado de "Starblack", transformou-se em
"Django, O Deus Negro da Morte" na Alemanha!
Mais alguns títulos enganosos, e não só alemães:
"As Duas Faces do Dólar" (
"Le Due Facce del Dollaro", 1967), de Roberto Bianchi Montero, virou
"Django - Seu Colt Canta Seis Estrofes" na Alemanha e
"Pôquer de Ases para Django" na França.
Em
"Execução" (
"Execution", 1968), de Domenico Paolella, John Richardson faz papel duplo numa tradicional história sobre gêmeo bom e gêmeo mau, ambos perseguidos por um caçador de recompensas chamado Clips (Mimmo Palmara). Mesmo assim, o western virou Django na Alemanha (título:
"Django - A Bíblia Não é um Jogo de Cartas"!!!) e na França (título:
"Django, Prepare Sua Execução").
Três filmes dirigidos por Sergio Garrone viraram Django sem sê-lo, talvez porque o cineasta tenha assinado um dos mais bem-sucedidos títulos não-oficiais do personagem,
"Django, O Bastardo". O primeiro deles foi
"Atirar para Viver" (
"Se Vuoi Vivere... Spara", 1968), que virou
"Façam Suas Preces... Django Atira!" na Alemanha, onde o personagem interpretado por Ivan Rassimov, que se chamava Johnny Dall, virou Django à força na dublagem.
Outro foi
"Uma Longa Fila de Cruzes" (
"Una Lunga Fila di Croci", 1969), rebatizado
"Django e Sartana - A Dupla Fatal" na Alemanha. Por causa dessa pequena "liberdade poética" da alemoada, o personagem de Anthony Steffen, originalmente chamado Johnny Brandon, virou Django, e o de William Berger, que era Everett Murdock na versão original, passou a chamar-se Sartana, pelo menos nos cinemas e videolocadoras da Alemanha!
O terceiro trabalho de Garrone rebatizado foi a co-produção ítalo-espanhola
"Tequila" (1971), mas neste caso o título enganoso foi dado primeiro na Itália, onde o filme virou
"Uccidi Django... Uccidi per Primo!" (
"Mate Django... Mate Primeiro!" em tradução literal). EUA e França entraram na jogada e também venderam o filme como se fosse mais uma aventura de Django.
Para encerrar, duas curiosidades bem bizarras. Uma delas é a comédia erótica norte-americana
"Brand of Shame" (
"Marca da Vergonha", em tradução literal), dirigida por Byron Mabe em 1968, que trazia Steve Stunning como um pistoleiro metido em altas confusões no Velho Oeste. Para aproveitar o apelo popular do filme de Sergio Corbucci, distribuidores inescrupulosos resolveram relançar o filme na Europa com o impagável título
"Django Nudo"!!! Azar de quem queria ver Franco Nero pelado, pois ele nunca dá as caras, "nudo" ou vestido...
A outra doideira é o western
"Sartana - Uma Pistola e 100 Cruzes" (
"Una Pistola per Cento Croci!", 1971), de Carlo Croccolo. Dependendo do país em que o filme foi lançado, o personagem interpretado por Tony Kendall foi rebatizado como Django ou como Sartana. No Brasil, por exemplo, ficou sendo Sartana, mas na Alemanha virou Django (claro...). E na versão original em italiano? Ironicamente, nenhum dos dois: o pistoleiro interpretado por Kendall chamava-se "Santana", e não tinha relação com os dois famosões do Velho Oeste!
(Eu citei apenas alguns casos mais famosos e/ou curiosos, mas existe uma caralhada de filmes transformados em falsos Djangos principalmente na Alemanha e na França, como
"Sete Dólares para Matar", de 1966, que para os alemães virou
"Django - Os Abutres Estão Fazendo Fila";
"Sentenza di Morte", de 1968, transformado em
"Django, Impiedoso como o Sol" na Alemanha; e
"Il momento di uccidere", de 1968, que foi rebatizado
"Django - Por um Caixão Cheio de Sangue" pelos alemães, entre muitos outros cuja relação tornaria esta postagem ainda mais gigantesca. O mais recente filme falsamente intitulado com o nome do personagem foi a produção para a TV norte-americana
"A Vida por um Dólar", dirigida em 1998 por Gene Quintano e com Emilio Estevez no papel principal, que na Alemanha virou
"Django - Um Dólar para os Mortos"!!!)
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Lobby card de "Viva Django!" (1968), de Ferdinando Baldi |
PS: Um agradecimento especial ao Paulo, do belíssimo blog O Euro Western no Brasil, por autorizar o uso de algumas imagens de lá nesta minha postagem (a saber: os pôsteres nacionais dos filmes e os anúncios de cinema recortados de jornais). O blog dele é uma das maiores fontes de informações para quem quer pesquisar os títulos com que os westerns spaghetti foram lançados em nossos cinemas e videolocadoras, então não deixe de visitar caso você também seja um fã do gênero!
********************************************************************1º CONCURSO "CULTURAL" FILMES PARA DOIDOSViu aquela imagem lá em cima com as nove encarnações de Django no cinema italiano? Pois o leitor que conseguir identificar mais atores nesta imagem, usando o diagrama numérico abaixo como base, ganhará como prêmio um fantástico, magnífico, inestimável
DVD FULEIRO DO "DJANGO" DE SERGIO CORBUCCI (aqueles vendidos a preços populares nas lojinhas dos bolivianos do Centro de São Paulo; ora, é um prêmio simbólico!).
Mande suas respostas, ou chutes, através do espaço de Comentários. As respostas serão moderadas para que um leitor não possa copiar as respostas do outro, e somente a resposta do grande vencedor será publicada - ganha o PRIMEIRÃO que conseguir identificar os nove atores, ou pelo menos o maior número de atores caso a Maratona chegue ao fim e ninguém tenha conseguido dar nome aos nove bois! (Convém mandar as respostas SEPARADAS de qualquer comentário, elogio ou reclamação sobre esta postagem, visto que elas não serão publicadas.)
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Lobby card espanhol de "Django" (1966) |
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Um Homem Chamado Django (1971)
Um verdadeiro abismo de qualidade separa a primeira aventura não-oficial de Django dirigida por Edoardo Mulargia (o péssimo "Django Não Espera... Mata", 1967) de sua segunda incursão por essas veredas, UM HOMEM CHAMADO DJANGO. Apenas quatro anos...
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"Crossover" é o nome dado ao encontro de personagens de mídias ou histórias distintas, e, embora os nerds acreditem que seja uma coisa recente (graças a HQs como "Marvel vs. DC" ou filmes tipo "Alien x Predador"), o recurso é antiquíssimo, inclusive...
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Django, O Bastardo (1969)
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Django Atira Primeiro (1966)
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