DJANGO NÃO ESPERA... MATA (1967)
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DJANGO NÃO ESPERA... MATA (1967)



O italiano Edoardo Mulargia deve ter gostado muito do "Django" de Sergio Corbucci. Ou então - o que é mais provável - era malandro e sabia que podia faturar uma bela graninha em cima do sucesso deste filme. Num período de quatro anos, entre 1967 e 1971, Mulargia dirigiu (e às vezes escreveu) quatro faroestes diretamente relacionados com "Django": dois traziam novos personagens com nomes bem parecidos, como "Cjamango - O Vingador" (1967) e "Shango - A Pistola Infalível" (1970), enquanto os outros dois eram assumidamente aventuras não-oficiais do personagem: "Um Homem Chamado Django" (1971) e o alvo da nossa análise de hoje, DJANGO NÃO ESPERA... MATA (1967).

Trata-se do último filme da parceria entre Mulargia e Vincenzo Musolino, que produziu e escreveu os três westerns anteriores de Edoardo ("Só Contra Todos", "Vá com Deus, Gringo" e "Cjamango - O Vingador"). O problema é que se Mulargia não era exatamente o melhor dos diretores, tampouco Musolino era o mais inspirado dos roteiristas. Nos sites sobre western spaghetti, há quem compare estes quatro filmes da dupla com os trabalhos do notório Ed Wood, tal a ruindade e a quantidade de problemas graves, tanto técnicos quanto narrativos.


Se "Django Atira Primeiro", de Alberto De Martino, ainda era um western qualquer que foi adaptado para virar aventura de Django, neste aqui o personagem já tem mais em comum com Franco Nero no filme de Corbucci. Em sua nova encarnação, Django é interpretado por Ivan Rassimov, que já havia sido Cjamango sob o comando de Mulargia e Musolino.

Este "novo" Django não tem caixão nem metralhadora, mas em compensação (?) tem um sobrenome (Foster) e uma família, constituída por pai, tio e a irmã Mary (que, numa bela sacada dos realizadores, é interpretada por Rada Rassimov, irmã de Ivan na vida real). O único problema é que, num western spaghetti, ter família geralmente envolve luto, porque é claro que alguém vai aprontar alguma com os familiares do herói para que ele possa entrar em ação e vingar-se.


No caso aqui, quem se dá mal é o patriarca Foster (Gino Turini), um criador de cavalos que comete o grande erro de envolver-se com um grupo de bandoleiros mexicanos (talvez numa referência aos vilões chicanos de "Django"). O que era para ser uma negociação comum se transforma numa chacina quando o líder do grupo, Navarro (César Ojinaga), mata Papai Foster e rouba 10.000 dólares do finado.

Para o azar de Navarro, o filho da vítima, Django Foster, acabou de voltar à cidade. Quando chega no rancho da família e descobre sobre o assassinato do pai, nosso herói jura vingança e sai no encalço dos bandidos. É quando a história começa a se complicar...


Acontece que o filho de Navarro, Nico (Alfredo Rizzo), decide passar a perna no próprio pai e fugir com as 10 mil doletas, escondendo-se numa pequena vila mexicana. Navarro segue o fujão até lá, mas o encontra morto. Para piorar, o dinheiro sumiu novamente, fazendo valer aquela máxima popular de que "ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão".

Furioso, Navarro e seus homens começam a matar aleatoriamente os pobres moradores da vila, para descarregar a raiva pela morte do filho e pelo roubo do dinheiro. É quando aparece o próprio Django e enche os mexicanos de chumbo. Pronto: com Navarro e seus homens mortos, o herói completou sua vingança em tempo recorde e pode voltar para o rancho e descansar com o que restou da sua família, certo? Errado!


Acontece que isso tudo acontece nos primeiros 20 minutos de DJANGO NÃO ESPERA... MATA, e o filme não é um curta-metragem; portanto, ainda tem pelo menos mais uma hora e uns quebrados pela frente! E é claro que Django não vai ficar satisfeito com uma vingancinha tão mixuruca enquanto não reaver também a grana originalmente roubada do seu pai (e, desde então, roubada mais duas vezes... que confusão!).

O herói irá descobrir que quem matou Nico para roubar-lhe o dinheiro foi um espertinho chamado Gray (o brasileiro Celso Faria!), que pretende aproveitar a fortuna ao lado da namorada Judy (Marisa Traversi). Mas Django descobre o plano, encontra o ladrãozinho e mata-o num duelo, recuperando o dinheiro da família. Vingança consumada, dinheiro recuperado, fim do filme, certo? Errado! Acredite se quiser, ainda estamos nos quarenta e poucos do primeiro tempo!


Acontece que Navarro, o bandido mexicano que roubou a grana em primeiro lugar lá no começo do filme e depois foi morto por Django (ainda lembra de tudo isso?), trabalhava originalmente para um rico e poderoso fazendeiro da região, Don Alvarez (Gino Buzzanca), que não pretende desistir dos cobiçados 10.000 dólares que julga serem seus de direito.

Por isso, o figurão contrata o melhor pistoleiro daquelas bandas, Hondo (interpretado pelo próprio roteirista-produtor Musolino, este da imagem abaixo), para que sequestre a irmã de Django, obrigando-o a trocar a grana pela garota. Infelizmente, no processo de sequestrar a garota, Hondo também acaba matando o tio do herói, dando-lhe um duplo motivo para se vingar!


Se lendo assim já parece confuso, saiba que ao resumir a trama eu tentei dar um mínimo de sentido e coerência ao que acontece no filme, pois a narrativa de DJANGO NÃO ESPERA... MATA é incompreensível: são tantos personagens entrando e saindo de cena sem dizer ao que vieram que eu passei a maior parte da trama boiando, até finalmente desistir de entender; só fui entender minimamente a história ao ler algumas resenhas sobre o filme depois, e então reassisti-lo com outros olhos.

Mas, mesmo usando um "manual de instruções" como eu fiz, a trama continua desnecessariamente complicada e enrolada, com um excesso de traições e personagens se enganando e roubando o dinheiro uns dos outros. Em resumo, só para dar uma ideia de como o roteiro é estupidamente complexo: Navarro mata o pai de Django e rouba seu dinheiro; o filho de Navarro, Nico, rouba o dinheiro e foge; Gray mata Nico e rouba o dinheiro uma terceira vez; Django mata Navarro e depois mata Gray, recuperando o dinheiro; Don Alvarez manda Hondo sequestrar a irmã de Django para roubar o dinheiro pela... sei lá, quarta vez?


Cada uma dessas situações já renderia seu próprio filme, então imagine ver tantas voltas e reviravoltas numa mesma aventura com menos de 90 minutos. E sem sequer se preocupar em explicar ao espectador quem são aqueles personagens todos ou suas intenções. Complicado, hein?

Alguns críticos escreveram que o roteiro parece ter sido escrito numa noite para filmar no dia seguinte, mas eu já acho que nem havia roteiro, e as cenas foram sendo improvisadas na hora da filmagem mesmo! O fato de Django "vingar-se" do assassino do pai (o mexicano Navarro) ainda nos primeiros 20 minutos também estraga aquela expectativa pelo grande duelo final. E, com tantos vilões em cena, nem sequer existe um único bandidão memorável para o espectador ficar de olho.


Embora Django Foster seja um pistoleiro bem mais próximo do Django de Franco Nero do que Glenn Saxson em "Django Atira Primeiro", as semelhanças não são lá tão expressivas. Além de ter família e uma irmã, coisas que faltavam ao herói "forever alone" do filme de Corbucci, o Django de Mulargia e Musolino também tem um sidekick, um mexicano chamado Barrica (interpretado por Ignazio Spalla).

Pelo menos o carrancudo Rassimov está ótimo como Django genérico, e acertou até no tom misterioso/silencioso do personagem - embora a ridícula luvinha de couro que ele usa numa das mãos nunca se justifique. Coincidentemente, o ator também havia integrado o elenco de "A Bíblia", de John Huston, de onde saiu o Django oficial, Franco Nero.


É uma pena que o filme seja bem ruinzinho e não lhe faça justiça, e que essa seja sua única interpretação do herói (adoraria vê-lo interpretar Django em mãos mais habilidosas, de um Ferdinando Baldi ou Enzo G. Castellari, por exemplo). Quer dizer, única interpretação oficialmente, porque se considerarmos também as redublagens e títulos em outros países (e eu, pelo menos, não considero), este seria o segundo dos quatro "Djangos" de Rassimov!

Acontece que "Cjamango - O Vingador" foi lançado como "Django e as Cruzes na Areia Sangrenta" na Alemanha, onde o pistoleiro Cjamango também foi renomeado Django (ora, o nome já era bem parecido mesmo!); "Atirar para Viver" (1968), de Sergio Garrone, virou "Façam Suas Preces... Django Atira!" para o público alemão (mesmo que o personagem de Rassimov se chamasse Johnny Dall na versão original); por fim, "Sua Lei Era a Vingança" (1969), de Mario Siciliano, foi rebatizado "Django Não Reza" na França (Rassimov originalmente interpretava um herói chamado Daniel neste filme).


Os créditos iniciais de DJANGO NÃO ESPERA... MATA identificam Ivan com um nome artístico americanizado, "Sean Todd", que ele usou também em seus outros faroestes, como era comum aos atores da época para se passarem por "astros norte-americanos". O engraçado é que eu sempre achei que "Ivan Rassimov" também fosse um nome artístico (referência ao escritor russo Ivan Assimov, talvez). Bem, não deixa de ser, já que o nome de batismo deste italiano de origem sérvia era Ivan Djerassimovic!

Rassimov teve uma longa carreira no cinema italiano, sendo bastante lembrado pelos fãs de horror por ter aparecido em três títulos do notório ciclo de filmes sobre canibais: "The Man from the Deep River" (1972), "O Último Mundo dos Canibais" (1977) e "Os Vivos Serão Devorados" (1980), o primeiro e o último dirigidos por Umberto Lenzi, e o segundo por Ruggero Deodato.


O restante do elenco não tem muita chance para mostrar serviço, graças à direção inepta de Mulargia (creditado como "Edward G. Muller") e ao roteiro bisonho do produtor Musolino (que assina com o pseudônimo "Glenn Vincent Davis"). E olha que se o filme não fosse tão enrolado e tão chato, poderia ter algum valor como comédia involuntária, como acontece com as obras do igualmente ruim Demofilo Fidani (logo chegaremos a elas).

Motivos para rir de DJANGO NÃO ESPERA... MATA não faltam: além da pobreza geral da produção (cenários e figurinos parecem ter sido improvisados no próprio dia da filmagem), e da incompetência geral de todos os envolvidos na parte técnica, há um problema crônico com a iluminação, que ganha contornos surreais em diversas cenas. Repare, por exemplo, na imagem abaixo, que mostra Django caminhando à noite e sendo diretamente iluminado pela luz de um refletor!


Outro detalhe hilário envolvendo a iluminação é que ela diversas vezes entrega a utilização de cenários. O rancho da família Foster, por exemplo, é um cenário tão óbvio, sem teto ou paredes, que em várias das internas filmadas ali vemos a luz do sol incidir diretamente sobre os personagens, vinda por cima e pelos lados, comprovando que não há telhado na casa, como você pode conferir nas imagens abaixo.

O leitor do FILMES PARA DOIDOS sabe que eu não costumo me deter a estes aspectos tão técnicos, mas é que o problema nesse caso é tão grave que fica impossível não rir da incompetência geral, e é incrível que o diretor não tenha percebido a luz estourando enquanto filmava estas cenas - ou então percebeu, mas achou que o filme já era tão ruim que ninguém iria ligar para mais este "detalhe"!


DJANGO NÃO ESPERA... MATA também é fraquinho no quesito ação. Os duelos e tiroteios são bem básicos, e a narrativa se resume a mostrar Rassimov chegando (geralmente de lugar nenhum), encontrando um grupo aleatório de inimigos e sacando seu revólver mais rápido para matar todos os rivais, não importando seu número. Depois da terceira ou quarta vez que isso acontece, fica redundante e provoca até bocejos.

Não há nada sequer próximo do massacre com metralhadora em "Django", mas pelo menos a conclusão envolve um gigantesco tiroteio na fazenda de Don Alvarez, com farta contagem de cadáveres, no estilo do que Lucio Fulci tinha feito no ano anterior em "Tempo de Massacre" (1966) - com destaque para o improvisado "colete à prova de balas" usado por Barrica, que só pode ser citação a "Por um Punhado de Dólares".


Enfim, deve ter um bom filme em algum lugar de DJANGO NÃO ESPERA... MATA, mas o roteiro incompreensível e as limitações da produção comprometem bastante o resultado final. E é uma pena, porque Rassimov poderia ter sido um ótimo Django caso contasse com diretor e roteiro melhores.

A parceria entre Mulargia e Musolino pode ter encerrado aqui, mas ambos seguiram seu próprio caminho. O produtor resolveu escrever e dirigir seus próprios filmes, talvez por ter percebido a inépcia do seu parceiro habitual. Ele mesmo assinou os westerns "Peça Perdão a Deus, Nunca a Mim" (1968) e "Quintana", este lançado no mesmo ano em que Musolino faleceu, 1969.

Já Mulargia deve ter aprendido algumas coisas com DJANGO NÃO ESPERA... MATA, considerando que a sua outra aventura não-oficial do personagem, o posterior "Um Homem Chamado Django" (estrelado por Anthony Steffen), é infinitamente superior e muito mais divertido, conforme veremos mais adiante em nossa MARATONA VIVA DJANGO!.


Cena de DJANGO NÃO ESPERA... MATA



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Non Aspettare, Django... Spara 

(1967, Itália)
Direção: Edoardo Mulargia
Elenco: Ivan Rassimov, Rada Rassimov, Ignazio Spalla,
Vincenzo Musolino, Gino Buzzanca, Franco Pesce, Celso
Faria, Alfredo Rizzo e Marisa Traversi.



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