Outras resenhas mais ou menos curtinhas para quem não tem preguiça de ler
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Outras resenhas mais ou menos curtinhas para quem não tem preguiça de ler


KICK-ASS 2 (2013, EUA. Dir: Jeff Wadlow)
Curto e grosso: se "Kick-Ass" fosse uma trilogia (e talvez venha a ser, mas ainda não é), esta Parte 2 seria "O Império Contra-Ataca". Eu ainda prefiro o primeiro, mas "Kick-Ass 2" é uma daquelas continuações excelentes que não devem quase nada ao original, e ainda tentam expandir o conceito ao invés de ficar na zona de conforto e entregar um "mais do mesmo". Se o primeiro filme era uma fábula para adultos sobre jovens do "mundo real" que resolvem se transformar em super-heróis fantasiados, e combater o crime mesmo sem possuírem nenhum superpoder, este segundo analisa as consequências e repercussões do "vigilantismo mascarado". Afinal, o sucesso do atrapalhado Kick-Ass (interpretado por Aaron Taylor-Johnson) inspirou toda uma nova leva de "super-heróis sem poderes", usando os uniformes e nomes mais absurdos e as armas mais ridículas. E quando a heroína-mirim Hit-Girl (Chloë Grace Moretz), agora adolescente, aposenta sua vida dupla contra a vontade, a pedido do padrasto, Kick-Ass resolve integrar um grupo de justiceiros mascarados, tipo um "Vingadores sem poderes", liderado pelo Coronel Stars and Stripes (um quase irreconhecível Jim Carrey). O problema é exatamente aquele conceito já explorado à exaustão nos filmes do Batman: será que um vilão lunático, como o Coringa, não é um reflexo direto da existência de um outro lunático que se veste de morcego? No caso aqui, a existência dos "super-heróis" motiva o surgimento de um primeiro grupo de "super-vilões", liderados por Chris D'Amico (Christopher Mintz-Plasse), filho do mafioso assassinado na conclusão do primeiro filme. Ele se transformou no terrível Motherfucker e, chefiando um grupo de bandidões fantasiados, começa a semear o horror pela cidade antes de partir para o ataque direto contra Kick-Ass. O resultado é um filme tão cheio de exageros e violência explícita quanto o original, mas sem medo de ser mais "dark" e terrível do que aquele, sem poupar nem mesmo os personagens mais simpáticos - e isso que a adaptação suaviza algumas atrocidades mostradas originalmente na HQ de Mark Millar e John Romita Jr. Em certos momentos (como no caso de um estupro mal-sucedido), o espectador se pega rindo de nervoso do humor negríssimo. E se a Hit-Girl, que era a melhor coisa do original, agora foi jogada para segundo plano (há uma subtrama nem sempre divertida envolvendo as tentativas da menina de viver como uma "adolescente normal"), os personagens secundários acabam roubando o espetáculo. O destaque absoluto é a anabolizada Mother Russia (Olga Kurkulina), uma das super-vilãs da equipe de Motherfucker, que é uma antagonista de respeito. E John Leguizamo, quem diria, está ótimo como o conselheiro do vilão adolescente (a quem o próprio chama de Alfred, em referência a Batman), e eu nem me lembro qual foi a última vez em que Leguizamo esteve tão bem num filme ("O Verão de Sam", talvez?). Não ligue para as críticas bunda-moles, inclusive uma já célebre que acusa "Kick-Ass 2" de incentivar o vigilantismo (acredite, é bem o contrário!), e compara uma piada cretina envolvendo vômitos e diarréia com os massacres nas escolas americanas (é sério!). Porque a verdade é que se antes eu tinha medo de "Kick-Ass 2" perder sua essência nas mãos de outro diretor que não o Matthew Vaughn do original, agora eu já acredito estar diante de uma das mais divertidas, coloridas, criativas e fascinantes franquias de super-heróis já produzidas, que não tem medo de ser mais adulta e sanguinolenta do que as bobagens metidas a sérias produzidas por Christopher Nolan, Bryan Singer, Zack Snyder e cia. Que venha "Kick-Ass 3"!


ROTA DE FUGA (Escape Plan, 2013, EUA. Dir: Mikael Håfström)
Mais até do que "Os Mercenários" 1 e 2, "Rota de Fuga" é um verdadeiro deleite para todo moleque que cresceu acompanhando o cinema de ação dos anos 1980. Afinal, é aqui que temos a oportunidade de ver os dois maiores ídolos da época, Stallone e Schwarzenegger, REALMENTE lutando lado a lado e como personagens principais de um filme, sem dividi-lo com outros ídolos e (principalmente) sem ser ofuscados pela nova geração de astros do gênero. Stallone interpreta Ray Breslin, um especialista em segurança cujo trabalho é infiltrar-se em presídios de segurança máxima e fugir deles para mostrar as falhas do sistema. Mas ele cai numa armadilha ao ser encarcerado numa nova cadeia de alta tecnologia chamada "The Tomb" (que era o título original do filme), de onde é impossível fugir. Resta ao herói juntar forças com outro detento, Rottmayer (Schwarzenegger, é claro!), para tentar encontrar uma saída. A primeira metade de "Rota de Fuga" é ótima, explorando muito bem a química entre os dois envelhecidos astros, que chegam a trocar porradas (o que não acontecia em "Os Mercenários"). Mas, principalmente, a primeira metade explora a inteligência do personagem de Stallone, que, tal qual um McGyver moderno, busca as maneiras mais criativas para conseguir "dobrar" a segurança máxima da prisão - como ao usar o calor de uma lâmpada para dilatar e fazer saltar os parafusos que prendem uma chapa de metal do piso! Infelizmente, o roteiro que começa tão ágil e esperto desmorona na conclusão, quando começa a apelar para soluções fáceis e absurdas. A maneira como os heróis conseguem escapar do presídio (sem querer estragar a surpresa de ninguém, mas é o que se espera, né?) depende muito mais da sorte e de influências externas do que da inteligência ou da força dos protagonistas, e é uma pena que, depois de apresentar Stallone como um mestre das fugas, os roteiristas apelem para algo tão simplório quanto um e-mail enviado a ex-associados de Schwarzenegger para tornar a fuga possível. Isso sem contar na facilidade com que os personagens escondem e carregam objetos numa prisão supostamente de segurança máxima (Ray chega a sair do consultório médico levando um montão de quinquilharias debaixo da blusa, e sem ser revistado por nenhum guarda!). Para fechar com chave de bosta, a "revelação final" sobre o personagem de Schwarzenegger não faz o menor sentido. É uma pena, porque o filme realmente começa muito bem. Mas é impossível não abrir um sorrisão na cena em câmera lenta que mostra Schwarzenegger pegando uma metralhadora de alto calibre e lembrando dos seus tempos de "Comando para Matar" (só faltou dar uma piscadinha para o espectador). E ainda que o ato final inteiro seja péssimo, "Rota de Fuga" ainda é melhor que a média do Domingo Maior, principalmente graças ao vilão: ninguém menos que Jesus em pessoa, ou Jim Caviezel, divertindo-se muito como o intragável diretor da prisão. Podia ser melhor, e desperdiça o sumido Sam Neill em papel ingrato. Mas como veículo para a parceria entre os dois astros funciona muito bem (ainda que seja impossível não ficar pensando no que eles teriam feito juntos no auge de suas carreiras, lá nos anos 80...).


REBOBINE ISSO! (Rewind This!, 2013, EUA. Dir: Josh Johnson)
Há quem diga que o videocassete foi o mais importante eletrodoméstico do século 20. Pode até não significar nada para a molecada que hoje tem todo um oásis de torrents e downloads de filmes à disposição, mas quem viveu o auge daquela época certamente lembra como o videocassete trouxe o cinema para dentro de casa e democratizou o acesso a filmes (se antes você dependia da programação dos cinemas e canais de TV, agora você podia escolher o que queria ver). Pois "Rebobine Isso!" é um documentário sobre o VHS e a maneira como este aparelho hoje pré-histórico transformou a vida de cinéfilos de todas as idades e intensidades, desde os apaixonados por cinema até o casal que só queria pegar um pornôzinho para assistir na privacidade do seu lar. Enfim, só o tema já torna o filme obrigatório, principalmente para quem viveu a época. Mas a boa notícia é que este documentário também é muito divertido, além de informativo. Começa com cenas filmadas no próprio formato VHS, mostrando um colecionador de fitas visitando uma feira de antiguidades em busca de filmes raros. Depois, o enfoque se divide entre entrevistas com outros tantos colecionadores norte-americanos, que ainda compram e mantêm fitas de vídeo, e falam sobre como o videocassete mudou suas vidas, e com gente conhecida como Charles Band, Lloyd Kaufman, Frank Henenlotter e David Schmoeller, estes falando sobre como o vídeo doméstico foi importante para suas carreiras, já que os filmes baratos que produziam/dirigiam acabaram em prateleiras de locadora ao lado de superproduções de Hollywood! "Rebobine Isso!" quase perde o foco quando tenta abraçar o mundo e cai num assunto que mereceria um documentário próprio: os malucos que aproveitaram a simplicidade e o baixo custo do formato para gravar seus próprios filmes em vídeo. O representante da classe aqui é um sujeito chamado Rocky Nelson, que tem certo culto entre fãs de trash nos EUA, mas é um completo desconhecido no Brasil - e certamente existiam muitos outros nomes do universo do "shot in video" que mereceriam o mesmo destaque. Pulando esse detalhe, que felizmente não rouba muito tempo, o documentário é excelente, e recheado de engraçadíssimos trechos de produções bizarras que ficaram limitadas ao universo do VHS, como a fita com o programa de aeróbica do ator Bubba Smith, aquele gigante que interpretava o Hightower na série "Loucademia de Polícia"! Para quem também viveu aquela época maravilhosa das fitas e videolocadoras, "Rebobine Isso!" reserva momentos hilários, nostálgicos e até emocionantes. Cinéfilos das antigas podem até derramar algumas lágrimas lembrando daquele tempo que nunca mais vai voltar, e de detalhes absurdos de uma época bem ingênua - como o fato dos trechos com "fita mastigada" antecederem cenas de sexo ou nudez, já que a fita estragava exatamente porque alguém havia rebobinado e reassistido aquele trecho muitas vezes!


O ATAQUE (White House Down, 2013, EUA. Dir: Roland Emmerich)
Às vezes Hollywood apronta dessas, de produzir dois filmes praticamente idênticos na mesma época. Neste caso em questão, "O Ataque" tem argumento muito parecido com o de "Invasão à Casa Branca", que saiu alguns meses antes: terroristas invadem a Casa Branca e um agente especial é o único que consegue escapar com vida do atentado para salvar o pescoço do presidente. A principal diferença entre os dois filmes é a qualidade: enquanto "Invasão à Casa Branca" é um filmaço, esse aqui é meia-boca em tudo, mas principalmente em matéria de ação e violência - já que, ao contrário do anterior, tem classificação PG-13, voltada a um público mais jovem. Channing Tatum, o novo ídolo da molecada, interpreta Cale, o herói azarado que vai pedir emprego como segurança do presidente dos Estados Unidos justamente no dia do ataque dos terroristas (que conveniente...). Já Jamie Foxx, o inexpressivo Django do Tarantino, é o presidente à la Obama. Eles formarão uma dupla completamente absurda para enfrentar vilões cuja mira piora muito quando precisam atirar nos heróis do filme, e que são liderados por James Woods (bem longe dos seus melhores papéis de bandidão). Na minha resenha de "Invasão à Casa Branca", eu comentei que aquele filme tinha clima de "Duro de Matar"; pois esse aqui, não contente em imitar o clima, copia elementos do filme de McTiernan na cara-dura, como o herói que, a exemplo do veterano John McClane, passa a maior parte do tempo esgueirando-se em poços de elevador e túneis de ventilação para pegar os terroristas de surpresa, e perdendo partes do figurino à medida que o filme avança. Mas falta carisma e - principalmente - "atitude" a Tatum para convencer no papel do protagonista que salva a pátria. E enquanto Gerald Butler tocava o terror nos vilões em "Invasão à Casa Branca", distribuindo porradas, tiros e facadas na cabeça, o herói aqui protagoniza cenas de ação mais inofensivas e bem esquecíveis, com direito a uma ridícula perseguição pelos jardins da Casa Branca. Parece que o diretor Emmerich, um especialista contemporâneo em cinema-catástrofe, gastou todo o seu repertório nas cenas do atentado ao famoso edifício de Washington (que também perdem feio para a chacina mostrada no anterior "Invasão à Casa Branca"); depois, quando a pauleira começa, ele simplesmente não sabe o que fazer e toca o filme no piloto automático. Por isso, o negócio é deixar esse aqui na prateleira das locadoras (ou na fila de download) e pegar "Invasão à Casa Branca", que pelo menos cumpre o que promete no quesito "ação e pancadaria".


UMA TACADA DA PESADA (Deal of the Century, 1983, EUA. Dir: William Friedkin)
Considerado um dos trabalhos mais fracos do mestre William Friedkin (ignorado pelo próprio em sua auto-biografia lançada recentemente), "Uma Tacada da Pesada" pode ser definido como uma comédia sem graça, em que a ironia e o humor negro se sobrepõem às "piadas para gargalhar" que o pôster promete - e que se espera de um filme estrelado por Chevy Chase (à época no auge da fama e da arrogância). Mas o resultado também não é tão ruim e descartável quanto os detratores da obra querem fazer parecer. E não deixa de ser um trabalho visionário, já que, junto com "A Melhor Defesa é o Ataque" (1984), de Willard Huyck, é um dos primeiros filmes a brincar com a indústria armamentista, e isso décadas antes de "O Senhor das Armas" e "Guerra S.A. - Faturando Alto". Chase interpreta Eddie Muntz, um vendedor de armas espertalhão que resolve assumir o contrato milionário de venda de uma nova arma de guerra depois que o negociante original comete suicídio - este é o "negócio do século" do título original. Só que ele enfrentará dois problemas: a tal nova arma não funciona, e o seu sócio, interpretado por Gregory Hines, quer mudar de vida movido por inspiração religiosa. Há momentos muito divertidos, como o comercial bonitinho sobre a responsabilidade social de uma fabricante de armas sendo alterado para mostrar o "potencial de extermínio" das armas produzidas, ou a impagável lábia de Muntz para vender todo tipo de artilharia como se estivesse negociando produtos absolutamente comuns. Alguns momentos também rendem risadas amarelas pelo inusitado, tipo quando o protagonista leva um tiro no pé em que já tinha sido baleado antes, e que estava engessado, necessitando impedir a hemorragia com a colocação de uma rolha no buraco no gesso! Mas, no geral, esta é realmente uma comédia de poucas risadas (ou nenhuma risada, para a maior parte do público), que ainda desperdiça Sigourney Weaver em papel apagado, e parece ter medo de ir mais além, apelando para uma fraquíssima conclusão moralista (que, segundo entrevista com Chevy Chase, foi uma alteração feita na pós-produção). Certamente não é o pior filme de Friedkin ("Jade" e "A Árvore da Maldição" são bem piores), mas não é nem um pouco memorável. Menção desonrosa para o terrível título brasileiro bem anos 80, quando tudo por aqui era "da pesada" (dos "Recrutas da Pesada" ao "Um Tira da Pesada). E vá saber a que "tacada" o tradutor estava se referindo...


MACHETE KILLS (2013, EUA/Rússia. Dir: Robert Rodriguez)
O que se pode dizer de bom sobre "Machete Kills" é que o filme é bem melhor que o primeiro, e ainda corrige os muitos problemas daquela bobagem. Principalmente porque, agora, o Machete de Danny Trejo REALMENTE é o protagonista e personagem principal, e não um figurante no seu próprio filme (embora continue apagadíssimo, como personagem, protagonista e principalmente anti-herói). A sequência também tem menos bla-bla-bla e muito mais ação do que o original, narrando em ritmo acelerado sua trama sem pé nem cabeça que coloca Machete contra Voz, o milionário excêntrico interpretado por Mel Gibson, e que tem um plano mirabolante muito parecido com o do vilão de "007 Contra o Foguete da Morte". Mas os pontos positivos ficam por aí. O diretor Rodriguez demonstra, novamente, uma tremenda preguiça de filmar cenas de ação, ou de tentar fazer qualquer coisa diferente do que já mostrou em todos os seus outros filmes, numa autêntica reciclagem de ideias velhas, algumas até batidas. Chega ao cúmulo de repetir piadas que já não tinham graça ("Machete don't text" virou "Machete don't tweet"), cenas e situações (o destino do personagem de Antonio Banderas é igual ao de Robert DeNiro no original, a luta final entre Machete e Mel Gibson é igual à luta final do original, e a personagem de Michelle Rodriguez passa pelo mesmo apuro de Johnny Depp em "Era Uma Vez no México", quando perde o único olho que lhe resta), e até objetos de cena dos seus outros filmes, tipo a arma em formato de pinto que o diretor usa desde "A Balada do Pistoleiro". O resultado é bobo e descartável, embora garanta algumas boas risadas aqui e acolá. As raras boas ideias, como a bomba ligada ao coração de um narcotraficante, ficam perdidas numa trama episódica repleta de personagem soltos e participações especiais (de Antonio Banderas a Lady Gaga!) que tiram a atenção da "história". Lá pelas tantas, o espectador, perdido, começa a se perguntar o que aconteceu com Fulano, ou porque exatamente Beltrano está atrás de Machete. Se o vilão de Mel Gibson fica aquém do potencial (e tem poderes premonitórios que jamais se justificam!), pelo menos "Machete Kills" apresenta um capanga de respeito interpretado pelo chileno Marko Zaror, o astro dos filmes "Mirage Man" e "Mandrill". Zaror luta pra cacete e rouba a cena toda vez que aparece. Pena que Rodriguez não consiga dirigir uma luta com mais de 10 segundos, e se livre do coitado rapidinho! Também é uma pena que, um trailer falso e dois filmes depois, o diretor ainda não saiba o que fazer com um personagem legal e divertido como Machete. Simplesmente atirá-lo aleatoriamente nos filmes, mas sem dar-lhe cenas ou diálogos memoráveis, é um lamentável desperdício de potencial - tanto quanto o exército de gostosas que aparece em cena sem pagar sequer um mísero peitinho! O final deixa as portas escancaradas para uma terceira aventura, mas não estranhe se ela sair direto em DVD, já que "Machete Kills" foi um fiasco nas bilheterias mundiais.


A SOMBRA DO DESEJO (The Last Days of Frankie the Fly, 1996, EUA. Dir: Peter Markle)
"The Last Days of Frankie the Fly" (esqueça o título brasileiro, que não faz o menor sentido) tinha tudo para ser um filmaço: Dennis Hopper entregando uma atuação fantástica num momento de sua carreira em que estava relegado a vilão-clichê de produções direto para vídeo; Michael Madsen como um vilão arrepiante pouco tempo depois do antológico Mr. Blonde de "Cães de Aluguel", mais Daryl Hannah e Kiefer Shuterland defendendo seus papéis com vigor. O roteiro e o personagem-título também são ótimos: Hopper é Frankie "A Mosca", capanga do poderoso mafioso interpretado por Madsen, e que tem esse apelido por ser fraco e submisso aos mandos e desmandos do patrão e de seus homens de confiança. Mas as coisas mudam quando Frankie conhece uma atriz pornô decadente (Daryl Hannah), estrela dos filmes de sacanagem que o cineasta Shuterland é obrigado a fazer porque deve dinheiro ao mafioso. Infelizmente, o resultado fica aquém do potencial da trama e dos atores. Hopper está maravilhoso no papel principal, interpretando um bandido à moda antiga, com rígido código de honra e noções antiquadas do "negócio", agora dominado por jovens inconsequentes e arrogantes como Madsen. Nunca fica claro se Frankie começa a se rebelar contra seu empregador porque se apaixonou pela estrelinha pornô, ou se apenas quer protegê-la do mundo violento (e sem saída) em que ambos estão envolvidos. Só que a história e os personagens são mais ambiciosos do que a produção, comandada por um inexpressivo diretor de TV chamado Peter Markle. E justo quando parece que o filme vai começar, ele termina! Isso porque o roteiro passa um tempão preparando o espectador para a "volta por cima" de Frankie, quando o veterano mafioso resolve reagir aos maus tratos sofridos e se livrar dos que fizeram mal a ele e à sua protegida. Mas sua "vingança" é fraquinha e inconclusiva, considerando que um dos personagens mais filhos da puta da trama escapa ileso. "The Last Days..." até diverte, e com certeza vale a pena (re)descobrir pela sua história inusitada, que tenta fugir das armadilhas do "pós-Tarantino" (quando vários cineastas medíocres começaram a copiar os personagens e cacoetes de "Cães de Aluguel" e "Pulp Fiction"). E também por causa de Hopper, a estrela absoluta do show, naquele que provavelmente é o seu último grande desempenho no cinema, juntamente com o policial veterano de "Amor à Queima-Roupa". Em resumo: não é ruim, mas com certeza podia ser muito melhor. E um diretor mais competente e menos burocrático faria toda a diferença.


BÊNÇÃO MORTAL (Deadly Blessing, 1981, EUA. Dir: Wes Craven)
Sempre que alguém se refere a Wes Craven como "mestre do terror", eu sou um dos primeiros a comprar briga. Afinal, a exemplo do colega Tobe Hooper, ele tem muito mais filmes ruins e/ou meia-boca do que bons no currículo - é só lembrar que para cada "A Hora do Pesadelo" ou "Quadrilha de Sádicos" há um "A Maldição de Samantha" ou "Quadrilha de Sádicos 2". "Deadly Blessing", que nunca foi lançado em vídeo ou DVD no país (mas passou nos cinemas e na TV como "Bênção Mortal"), é um dos vários títulos frustrantes que Craven fez entre um clássico e outro. Marca um período de transição entre seus primeiros filmes de horror, mais chocantes e independentes ("Last House on the Left" e "Quadrilha de Sádicos"), e as produções "mainstream". Conta a história de misteriosas mortes ocorridas numa região rural dos Estados Unidos, bem perto de uma comunidade religiosa fictícia batizada "hitite" (que é muito parecida com os amish). Os fanáticos acreditam que o culpado pelas mortes é um Íncubo, demônio que ataca mulheres durante o sono para estuprá-las. A trama até tem potencial, mas é narrada de uma maneira tão chata e desinteressante que em nenhum momento o espectador se preocupa com qualquer um dos personagens ou com o destino que terão. E embora a trama indique elementos sobrenaturais (a existência do "Incubus"), a conclusão estilo "Scooby-Doo" revela que a culpa, na verdade, é de um assassino humano com motivo ridículo - o que lembra muito o desfecho dos famosos filmes giallo produzidos na Itália, em que o choque da revelação em si às vezes se sobrepunha à lógica. Só que aí Craven surge com uma daquelas suas tradicionais reviravoltas sobrenaturais sem pé nem cabeça, entregando um "último susto" que rivaliza, em estupidez, com a conclusão de "A Maldição de Samantha". Outras atrações de "Deadly Blessing" são as cenas de pesadelo tão frequentes no cinema do diretor (e isso pré-"A Hora do Pesadelo"!), e a participação de uma jovem Sharon Stone, pagando o pão que o Diabo amassou em cenas envolvendo aranhas. Mas apesar da presença de Ernest Borgnine (fazendo caras e bocas maquiavélicas como o líder da seita) e Michael Berryman, e de algumas boas cenas de horror aqui e acolá (principalmente um momento tenso envolvendo uma cobra na banheira), "Deadly Blessing" tem cara de telefilme, e como tal é frustrante e esquecível - quase como se fosse um imitador de Wes Craven na direção, e não o próprio. Não é tão ruim quanto "O Monstro do Pântano" e "Quadrilha de Sádicos 2", mas está bem longe dos melhores momentos do diretor.


RIDDICK 3 (Riddick, 2013, EUA/Reino Unido. Dir: David Twohy)
"Eclipse Mortal", de 2004, era uma aula de como fazer um eficiente filme B à la John Carpenter, inclusive apresentando um anti-herói - o brutamontes Riddick (Vin Diesel) - digno de figurar numa galeria "Carpenteriana" ao lado de Snake Plissken, ou do Napoleon Wilson de "Assalto à 13ª DP". Já a continuação, "As Crônicas de Riddick", era uma aula de como a interferência de um grande estúdio e um orçamento mais generoso podem destruir uma boa ideia e um bom personagem, alçando Riddick a super-herói numa trama cretina estilo "Star Wars dos pobres". Por isso, quando vi o pôster de "Riddick 3" no cinema, coloquei-o imediatamente na lista de "Filmes que jamais verei". Mas aí fui pesquisar e descobri que este terceiro filme, novamente escrito e dirigido por David Twohy, tentava resgatar o climão do original. E que Vin Diesel teria aceitado participar de "Velozes e Furiosos 3" apenas para recuperar os direitos sobre a franquia (então pertencentes à Universal), para que "Riddick 3" pudesse ser feito de forma independente, passando a borracha naquela atrocidade que foi "Crônicas". Assim, resolvi encarar e... que bela surpresa! Até estranhei por não ver ninguém comentando nada sobre o filme, provavelmente porque todo mundo achou que era algo no nível do segundo e passou longe. Uma pena, porque "Riddick 3" é divertidíssimo e volta às origens do ótimo "Eclipse Mortal", esquecendo quase que completamente a presepada que foi aquela segunda aventura. Aqui não tem frescura: o personagem-título volta a ser o bandido mais perigoso da Galáxia, conforme descobrirão os pobres mercenários que saem em seu encalço, em busca da grande recompensa pela cabeça de Riddick. Durante a caçada, em que o anti-herói sempre se apresenta como uma ameaça onipresente digna de filmes de horror, Twohy resgata a violência exagerada e as criaturas gosmentas do primeiro filme. A aventura tem três atos bem distintos: no primeiro, o protagonista enfrenta as agruras de um planeta desconhecido e hostil, sozinho e em silêncio durante a maior parte do tempo; no segundo, ele brinca de gato e rato com os mercenários que querem sua cabeça; finalmente, no terceiro e último ato, Riddick e seus algozes são obrigados a juntar forças (ao estilo "Assalto à 13ª DP" ou mesmo "Fantasmas de Marte", ambos do já citado John Carpenter) contra as monstruosas criaturas que habitam o planeta. Se "Eclipse Mortal" era legal porque ninguém sabia o que esperar dele, "Riddick 3" é legal porque ninguém espera absolutamente nada dele depois da catástrofe que foi o segundo. A surpresa positiva é inevitável. Até porque se trata de um autêntico filme B - feito com alguns vários milhões de dólares a mais, mas ainda assim com espírito "B" em tudo. Altamente recomendado, e é uma pena que poucos filmes como este cheguem ao circuito comercial.


PROJETO X - UMA FESTA FORA DE CONTROLE (Project X, 2012, EUA. Dir: Nima Nourizadeh)
Não acontece muita coisa em "Projeto X": como o subtítulo brasileiro já anuncia, esta é uma comédia sobre três jovens abobados (Thomas Mann, Oliver Cooper e Jonathan Daniel Brown) que promovem uma festa, mas o evento, divulgado pela internet, foge do controle e se transforma num inferno para toda a vizinhança. Até soa divertido no papel, e o trailer é ótimo ao vender o peixe. Mas o filme em si sempre parece bem aquém do seu potencial. É questionável, em primeiro lugar, a narrativa estilo "found footage", em que uma câmera "amadora" conta a história para o espectador através de flagrantes ou depoimentos dos personagens. Porque não há nada que justifique este formato narrativo, e algumas cenas que poderiam ser engraçadas perdem o potencial cômico justamente por causa da "câmera na mão". Este recurso deu aos realizadores a possibilidade de filmar "n" cenas da festa em si, mas não demora para os incontáveis takes de gatinhas dançando funk e rapazes enchendo a cara ficarem repetitivos - nada muito diferente de uma festa real sendo filmada com câmeras amadoras, já que o resultado final é sempre chato demais para ser assistido. E se "Projeto X" acerta em alguns momentos pontuais, quando dá uma banana para o politicamente correto (a cena envolvendo a descoberta de uma reserva escondida de ecstasy, por exemplo), a trama acaba se entregando ao moralismo de cueca tão típico das comédias norte-americanas modernas. Ocorre que, lá pelas tantas, o personagem principal cabação descobre que está perdidamente apaixonado pela menina que foi sua melhor amiga durante todos os anos de colégio - e em quem ele nunca chegou antes, por motivos óbvios. Só que isso acontece justamente quando o cabação está prestes a ter uma inesquecível noite de sexo selvagem com a maior gostosona do colégio. E aí o que faz o nosso herói? Oras, o que todo personagem bunda-mole de filme moralista faz: larga a gostosona semi-nua para correr atrás do seu grande amor (será que não podia pelo menos ter terminado a bimbada?). Outro grande defeito é que, embora os três personagens principais tenham lá seus momentos, o espectador nunca fica conhecendo o bastante para simpatizar com eles ou se preocupar com eles (em parte graças à armadilha que é o maldito formato "found footage"). "Projeto X" até diverte no fim das contas, principalmente à medida que a noite avança e a festa vira um caos descontrolado; mas é uma pena que as cenas boas já estejam no trailer, e que os realizadores apelem para moralismos baratos numa história que é mais divertida enquanto tudo está "fora de controle". Mesmo assim, eu adoraria ver uma refilmagem com narrativa tradicional dessa mesma história.


ATIRADOR (Shooter, 2007, EUA. Dir: Antoine Fuqua)
Nas mãos certas, "Atirador" poderia ter sido um senhor filme de ação. Nas mãos do megalomaníaco Fuqua, o resultado é uma obra inchada e problemática, com pelo menos 40 minutos a mais do que o necessário. Mark Wahlberg interpreta o herói Bob Lee Swagger, o melhor sniper dos Estados Unidos, que acaba envolvido numa conspiração e é acusado de atirar num ilustre convidado estrangeiro. Aí ele precisa fugir para salvar a pele e limpar o nome, tendo toda a opinião pública e agentes do Governo (corruptos ou não) atrás dele. Claro que Swagger irá virar a mesa, usando seus dotes de atirador para vingar-se dos vilões que o colocaram naquela situação (e, oh Deus, mataram o seu cachorro de estimação!!!). O grande problema de "Atirador" é que Fuqua leva o material mais a sério do que deveria, e o que começa como um ótimo eficiente filme de ação logo desanda para thriller político sério (e chato), estilo Tom Clancy. Eu até esperava um emocionante jogo de gato e rato entre o sniper e seus perseguidores, mas até mesmo as situações envolvendo o uso de rifles de mira telescópica são desperdiçadas. A primeira parte é a melhor, quando vemos o herói fugindo de tudo e todos, tendo que improvisar até soro fisiológico à la McGyver, no que lembra um cruzamento contemporâneo entre "Rambo - Programado para Matar" e "O Fugitivo" (ou, como escreveu um usuário do IMDB, "A Identidade Bourne" sem câmera sacudindo). Aí o filme se perde em situações desnecessárias repletas de personagens desnecessários (a gostosona Rhona Mitra é desperdiçada como uma agente do FBI). E no ato final, depois que finalmente entrega os tiroteios e explosões que o espectador espera, e quando parece que a coisa vai voltar para os trilhos, "Atirador" de repente vira "O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei". Ou seja, empilha pelo menos uns quatro possíveis finais, só que continua seguindo em frente sem terminar, até finalmente chegar na conclusão absurda que poderia ter sido mostrada meia hora antes! Uma recauchutagem geral no roteiro ou uma remontagem mais curta poderiam ser benéficas ao filme, mas do jeito que está passa longe dos bons momentos do diretor (como o posterior "Invasão à Casa Branca"). No fim, a maior curiosidade é o fato de, num filme em que os vilões são interpretados por pesos-pesados como Danny Glover, Ned Beatty e Rade Serbedzija, o "peso-médio" Elias Koteas roubar a cena como um sádico e degenerado capanga, daquele tipo que o espectador fica o tempo inteiro torcendo para levar os merecidos pipocos.


I'LL SLEEP WHEN I'M DEAD (2003, Reino Unido/EUA. Dir: Mike Hodges)
O título original e sua adaptação brasileira ("Vingança Final") vendem gato por lebre: na verdade, esse thriller policial dirigido pelo veterano Hodges ("Carter, O Vingador", "A Profecia 2") é um daqueles sonolentos filmes sobre o nada, em que pouquíssima coisa acontece e apenas o trabalho dos atores faz o espectador aguentar até o (frustrante) final. Clive Owen interpreta Will, um ex-matador obrigado a voltar à ativa para vingar-se do bandidão (Malcolm McDowell) que enrabou (!!!) seu irmão mais novo (Jonathan Rhys Meyers), levando-o ao suicídio. Ao invés de contar essa história simples com o mínimo de tensão e tiroteios que o espectador espera do argumento, Hodges toca a narrativa em câmera lenta, preferindo enfocar a lenta investigação de Will sobre as causas da morte do irmão, e não a vingança em si. O problema é que o espectador já viu o que aconteceu e já sabe tudo aquilo que o protagonista vai descobrir aos poucos; logo, o resultado de suas investigações não traz nenhuma surpresa ou grande revelação. Demora uma hora só para que o protagonista resolva partir para a "vingança", mas nos 40 minutos seguintes não acontece nada de muito emocionante para valer o sacrifício de manter-se acordado (acredite ou não, Will gasta mais tempo comprando roupas novas e cortando o cabelo e a barba do que se vingando!). E isso que o filme passa um tempão construindo toda uma aura de fodão e implacável para o personagem de Owen, que, no final, nunca se concretiza, já que raramente o vemos em ação. A trama até lembra muito o já citado "Carter, O Vingador", que trazia Michael Caine em papel semelhante (o gângster fodão que investiga a morte misteriosa do irmão). A diferença é que "Carter", mesmo com o ritmo lento típico dos policiais da década de 1970, parece até filme do Michael Bay perto do clima arrastado desse aqui. Sobram, portanto, as ótimas atuações (principalmente de McDowell, adicionando mais um vilão asqueroso à sua galeria) e a direção precisa e elegante de Hodges, que entrega algumas belíssimas cenas, como a passagem de tempo marcada pelo pano do barbeiro que passa em frente à câmera e separa o Clive Owen barbudo e cabeludo do Clive Owen de cara limpa e cabelo curto. Mas fica o aviso de amigo: a narrativa lenta, silenciosa e minimalista, que poderia até ser transformada em peça de teatro, é para poucos, e um autêntico convite ao sono. Não que eu estivesse esperando um filme de ação e pancadaria com edição de videoclipe; o problema é que a trama promete uma coisa (Clive Owen tocando o terror) e simplesmente não cumpre. Ou seja: não apenas é lento, como não chega a lugar nenhum!


PIRANHA 3DD (2012, EUA. Dir: John Gulager)
Fui excomungado por diversos amigos fãs de horror ao dizer que acho "Piranha 3D", aquele remake dirigido pelo francês Alexandre Aja, bem fraco e nada divertido. Afinal, tirando as gostosas peladas e aquela cena maravilhosa do massacre no lago, o que sobra é um filme bem ruim que se acha muito engraçado, mas não é, e ainda desperdiça atores conhecidos do calibre de Elisabeth Shue e Christopher Lloyd. Minhas esperanças quanto à sequência, batizada "Piranha 3DD" (!!!), eram praticamente nulas. E não sei se foi a baixa expectativa que ajudou, mas, quem diria, o sem-noção John Gulager (da série "Banquete do Inferno") saiu-se bem melhor do que o pretensioso "rei do remake" Aja. Não se engane: o filme continua uma bobagem sem tamanho, e agora muda a ambientação de um lago durante o "spring breaks" para um parque aquático repleto de gostosas de biquíni e/ou peladas, onde as monstruosas piranhas assassinas vão fazer a festa. Bobagem por bobagem, as piadas de Gulager pelo menos funcionam, ao contrário daquelas do francês, que no máximo provocavam risos amarelos. Tudo bem que falta a "Piranha 3DD" uma cena apoteótica tipo aquele massacre que o Aja orquestrou no primeiro filme - e o "grande massacre" desse aqui é bem rápido e bem fraquinho. Em compensação, só a participação de David Hasselhoff como ele mesmo, tirando onda da fama como salva-vidas garanhão do seriado "S.O.S. Malibu", já é mais engraçada que "Piranha 3D" inteiro! Como se não bastasse, existem pelo menos dois ou três momentos onde percebe-se que Gulager é um completo débil-mental, como quando uma piranha entra na vagina de uma garota apenas para abocanhar o pinto do seu namorado mais tarde (numa versão hardcore do mito da "vagina dentata"), ou quando Gary Busey arranca a cabeça de uma piranha a dentadas enquanto é atacado pelos peixes assassinos. Enfim, esse era justamente o tipo de bobagem sem-noção que eu queria ver já no filme do Aja, mas ele estava muito ocupado fazendo suspensezinho de quinta. "Piranha 3DD" também é o filme que essas bombas tipo "Sharknado" deveriam ser: percebe-se que diretor e roteirista ligaram o "Foda-se!" e se divertiram muito inventando as cenas mais idiotas e cabeludas possíveis. O resultado é de um mau gosto acachapante, rendendo uma perfeita Sessão da Tarde para debilóides!


POMPEYA (2010, Argentina. Dir: Tamae Garateguy)
Se tivesse um nome "de grife" na direção (tipo Guy Ritchie ou Tarantino), "Pompeya" hoje estaria bombando e sendo celebrado como algo genial e imperdível. Só que não é o caso, e portanto esta produção independente lá dos hermanos da Argentina teve distribuição limitadíssima, ficou relegada ao circuito de festivais e é praticamente desconhecida até dos cinéfilos mais "alternativos". Uma pena, porque se trata de uma daquelas divertidas maluquices que brincam o tempo inteiro com as expectativas do espectador, subvertendo os clichês, personagens e situações típicas dos filmes "de gângster" produzidos nos Estados Unidos. A trama começa com um diretor de cinema e um roteirista freelancer se encontrando para discutir ideias para uma nova produção - um policial sobre a guerra de quadrilhas em Buenos Aires. A partir das conversas entre eles, vai ganhando vida o "filme dentro do filme" (que é o roteiro escrito pela dupla), contando a história de um bandido, seu irmão surdo-mudo e a tradicional femme fatale que se envolve num triângulo amoroso com ambos. Quando explode a guerra entre as máfias russas e coreana, esses três personagens são pegos no meio do fogo cruzado. À medida que a criação do roteiro evolui, e a guerra de egos entre o diretor e seu roteirista fica mais acirrada, "Pompeya" reserva uma fantástica reviravolta, que é a verdadeira razão de ser do filme, e que obviamente eu não posso contar para não estragar a surpresa. O curioso é que, até então, a trama estava sendo conduzida de maneira bem morna, com piadas pontuais ao mundo do cinema (os nomes americanizados dos personagens do roteiro que está sendo construído, tipo Dylan, Timmy e Shadow) e toneladas de violência explícita e brutalidade. Quando a tal reviravolta surge, é como se estivéssemos vendo um novo filme, completamente diferente. Não é todo espectador que vai curtir a brincadeira, mas eu recomendo "Pompeya" para quem gosta dessas produções metalinguísticas que brincam com o poder do criador sobre suas criaturas, a exemplo de "Mais Estranho que a Ficção" e "Adaptação". E embora o filme tenha alguns problemas de ritmo, a diretora argentina Tamae Garateguy já pode figurar em qualquer lista de "novos nomes para acompanhar de perto" - principalmente porque seu novo projeto é um filme de horror chamado "Mujer Lobo"!!!


HITCHCOCK (2012, EUA. Dir: Sacha Gervasi)
Apesar do título, este filme não faz um apanhado da carreira do brilhante cineasta inglês que ficou imortalizado como "Mestre do Suspense", preferindo um recorte mais específico, que acompanha o velho Alfred durante as filmagens de uma das suas obras mais polêmicas e revolucionárias, "Psicose", de 1960. Vemos o diretor (interpretado por Anthony Hopkins) enfrentando todo tipo de dificuldade para levar às telas uma história que era considerada de mau gosto à época, já que era inspirada nos crimes do serial killer da vida real Ed Gein. O estúdio achava que o filme queimaria a imagem de Hitchcock e não quis produzir, então o inglês resolveu fazê-lo de maneira praticamente independente - mas já temendo o fracasso e o fim da sua carreira. Há muitas cenas boas enquanto "Hitchcock" acompanha o caótico processo de filmagem de "Psicose", como as tentativas do diretor de tentar manter o final da história surpreendente para o espectador (ele mandou sua equipe comprar o maior número possível de exemplares do livro de Robert Bloch que inspirou sua obra!). E as aparições de Ed Gein como uma espécie de "consciência" do cineasta inglês (ou seu "lado negro") representam um toque genial do roteiro. Mas, infelizmente, o foco do filme logo sai da realização de "Psicose" e recai sobre uma ridícula e dispensável intriga romântica, mostrando a relação de amor e ódio de "Alfredão" por suas estrelas ao mesmo tempo em que sua esposa, Alma (Helen Mirren), está prestes a viver uma relação extraconjugal com um amigo escritor. Não deixa de ser um desperdício de bom material, já que "Hitchcock" é baseado no excelente livro "Alfred Hitchcock e os Bastidores de Psicose", de Stephen Rebello, e ali há uma quantidade imensa de histórias engraçadas e interessantíssimas que poderiam render um filme muito melhor. Embora algumas anedotas do livro até tenham sido aproveitadas (tipo a inacreditável reação negativa da censura pelo diretor insistir em mostrar um vaso sanitário numa cena, coisa que nunca acontecia nos filmes da época!), acredito que "Hitchcock" seria muito mais interessante caso se focasse na realização de "Psicose" e no impacto que esta obra-prima provocou naqueles tempos pudicos. Não seria muito mais divertido ver o diretor esfaqueando melancias e melões para obter o som das facadas para a famosa cena do chuveiro, do que as chatíssimas e desinteressantes intrigas românticas entre Hitchcock e sua esposa que o filme preferiu enfocar? No fim, o que poderia ser uma ode apaixonada ao cinema e seus realizadores, como foi o "Ed Wood" de Tim Burton, acabou virando um romance bem dispensável. Com uma ambientação curiosa (os bastidores de "Psicose") e protagonistas insólitos, mas ainda assim um romance bem dispensável. E ao mesmo tempo em que é incômodo ver Anthony Hopkins com maquiagem de "O Professor Aloprado" no papel-título, ao invés de algum ator desconhecido, os intérpretes escolhidos para dar vida a Anthony Perkins, Janet Leigh e Vera Miles (respectivamente James D'Arcy, Scarlett Johansson e Jessica Biel) estão ótimos e realmente lembram esses atores. Mas minha recomendação é aproveitar o tempo que seria gasto com esse filme equivocado lendo o livro de Rebello. Ou revendo "Psicose".



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