BEOWULF - O GUERREIRO DAS SOMBRAS (1999)
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BEOWULF - O GUERREIRO DAS SOMBRAS (1999)



Escrito entre os séculos 7 e 8 por autor desconhecido, "Beowulf" é o mais antigo poema épico em inglês ainda existente - e, por isso mesmo, uma das obras mais importantes da literatura inglesa. Conta a história de Beowulf, herói que viaja até um castelo na antiga Escandinávia para enfrentar Grendel, um monstro que está semeando morte e destruição por lá. O manuscrito sobrevivente, a partir do qual foram feitas todas as traduções posteriores, seria do século 10, e hoje "Beowulf" é obrigatório tanto nas aulas de literatura quanto de história para alunos de língua inglesa.

Bem, seja lá quem for que tenha escrito o poema (seu nome se perdeu na poeira dos tempos), fico imaginando a cara do sujeito caso ele viajasse no tempo até 1999 e visse uma das adaptações cinematográficas do seu épico, a bizarra (na falta de adjetivo melhor) aventura BEOWULF - O GUERREIRO DAS SOMBRAS.

Afinal, lá pelas tantas, Beowulf e Grendel lutam ao som de música eletrônica, como se estivessem numa rave, e não num duelo até a morte, e o herói pratica acrobacias e piruetas dignas das pancadarias envolvendo Neo e o Agente Smith em "Matrix" (por coincidência, lançado no mesmo ano)!


E isso não é nem de longe o mais estranho de BEOWULF, que merece, com distinção, o rótulo de "Filme para Doidos", conforme veremos ao longo dessa resenha. É tanta maluquice, doideira e coisa fora de lugar que dá para entender porque o filme foi tão mal-recebido na época do seu lançamento - embora seja exatamente pela maluquice, pela doideira e pelas coisas fora de lugar que eu tenha gostado tanto dele em primeiro lugar!

Para começar, o roteiro de Mark Leahy e David Chappe (este é o único crédito de ambos, e Chappe até já morreu) não esconde suas intenções de atualizar o velho épico "Beowulf" para uma nova geração.

Imagine, caro leitor, que o poema é, para os jovens norte-americanos e ingleses, o mesmo que Machado de Assis é para os brasileiros: um texto arcaico (nesse caso, escrito há mais de mil anos), que eles terão muita dificuldade para ler (o inglês antigo tem diversas expressões em desuso, por isso a leitura exige constantes consultas a um glossário) e dificilmente vão entender (se quiser tirar a prova por conta própria, confira a obra na íntegra nesse link do Projeto Gutenberg).


A proposta de Leahy e Chappe foi ambiciosa: manter a "essência" do poema, mas ao mesmo tempo adicionando coisas que a molecada dos anos 1990 curtia (e com as quais se identificava muito mais), tipo música tecno, as lutas cheias de piruetas típicas do cinema de ação da época (e dos videogames) e muitos efeitos especiais. Os puristas acharam uma heresia, é claro. Mas confesso que sempre acompanho com interesse essas tentativas de modernizar textos clássicos.

Eu gosto muito de uma atualização de "Hamlet" dirigida por Michael Almereyda em 2000, que traz o personagem-título como um videomaker (ele filma os longos monólogos que Hamlet recitava na peça original), enquanto a disputa pelo trono da Dinamarca foi alterada para a luta pela presidência de um grande conglomerado empresarial chamado... Dinamarca! O Hamlet clássico, aquele escrito por Shakespeare no século 17, continuará existindo e continuará sendo filmado e encenado, mas essa versão "modernizada" provavelmente conseguiu atingir um outro público que não teria nenhum interesse no Hamlet "antigo".


Porém, no caso de BEOWULF, a sofisticação do "Hamlet" modernizado de Almereyda passa longe: a adaptação transformou um dos grandes épicos da literatura anglo-saxônica num videogame cheio de ação e música eletrônica.

Talvez tenha algo a ver com o fato de o produtor, Lawrence Kasanoff, ser o mesmo homem por trás da adaptação do videogame "Mortal Kombat" para o cinema em 1995 (com direção de Paul W.S. Anderson). Tem muitas semelhanças estilísticas entre as duas obras, incluindo uma sequência de abertura muito parecida e a já citada trilha sonora tecno.


BEOWULF também altera o cenário do poema clássico da antiga Escandinávia para um espaço-tempo indefinido, que pode ser tanto um futuro pós-apocalíptico em que a humanidade regrediu de volta a uma Idade Média forçada, mas mantendo resquícios da "modernidade" nas roupas, armas e outros elementos de cena (o trailer faz menção a isso), ou mesmo a Idade Média de algum universo paralelo.

Este tipo de ambientação é o que se convencionou chamar de steampunk: um subgênero da ficção científica que estava no auge no início dos anos 1990, e que trata de um passado "alternativo" onde a tecnologia avançou mais rápido do que na vida real, gerando um bizarro cruzamento entre, por exemplo, cavaleiros medievais e máquinas a vapor.


O universo esquisitão de BEOWULF é apresentado desde os primeiros minutos, já que a ambientação da trama é um castelo que parece saído do pesadelo de algum arquiteto modernista: todo construído em metal, e com chamas de gás metano e fumaça saindo eternamente por toda parte, o cenário lembra o cruzamento entre um velho forte medieval com uma fábrica dos primórdios da Era Industrial, ou uma refinaria de petróleo pós-apocalíptica!

Este excêntrico palacete é governado pelo Rei Hrothgar (Oliver Cotton), e está sendo assombrado noite após noite por um monstro que aparece e desaparece - o Grendel do poema, embora o nome seja usado pouquíssimas vezes -, e que sempre deixa uma vítima esquartejada.


Do lado de fora do castelo, moradores das aldeias próximas delimitaram um cerco para não deixar que ninguém entre ou saia da construção, temendo que a "maldição" se espalhe para o resto do reino. É uma mudança bem-vinda ao texto original, pois no poema Hrothgar e seu povo não abandonavam o palacete assombrado por puro patriotismo (de não querer sair do lar construído pelos antepassados), enquanto aqui há uma explicação mais lógica e aceitável (o cerco que impede a fuga do castelo).

Logo no início, os aldeões aprisionam uma garota que acabou de fugir do palácio maldito (interpretada pela gatinha venezuelana Patricia Velasquez, de "O Retorno da Múmia"), e se preparam para executá-la, para não deixar "o Mal se perpetuar", quando aparece o herói Beowulf para acabar com a farra.


Se o espectador ainda não tinha percebido que estava vendo um filme... digamos... diferente, a partir deste momento terá a confirmação de que BEOWULF é um legítimo "Filme para Doidos". Afinal, não só a garota é amarrada em um excêntrico instrumento de tortura que lembra o formato de uma navalha gigante (acima), mas também o herói Beowulf é interpretado por... Christopher Lambert!!!

Completamente diferente do Beowulf do poema (conforme veremos mais adiante), o herói interpretado por Lambert surge vestindo roupas de couro e um grande sobretudo preto por cima de tudo, estilo "Matrix". E ele resgata a moça da execução utilizando todo tipo de "gadgets" futuristas, inclusive duas bestas que dispara como se estivesse num filme do John Woo - segurando uma em cada mão e apontando-as ao mesmo tempo para a fuça dos inimigos! Ah, e as bestas se carregam automaticamente com novas flechas, não me pergunte como...


Depois de arregaçar vários rivais com suas armas engraçadas e desfilar todo tipo de piruetas e acrobacias, Beowulf tenta levar a garota resgatada de volta para o castelo. Só que entre a morte nas mãos dos aldeões ou nas garras do monstro, ela prefere correr de volta para seus captores - que, agora sim, conseguem finalmente executá-la antes que o herói consiga reagir.

Dessa forma, toda a cena do resgate foi completamente inútil - bem como todos os inimigos mortos por Beowulf neste prólogo morreram por nada! Que beleza de roteiro, não?


Sem mais delongas, nosso herói parte rumo ao castelo decidido a acabar com Grendel. Não demora para que se envolva nas intrigas palacianas, já que o Rei está sendo assombrado por um segredo do passado (que pode estar ligado à origem do monstro), e sua filha, Kyra (Rhona Mitra, explodindo de gostosa!), acabou de perder o marido de maneira misteriosa.

Quando a moça começar a se atirar para cima do recém-chegado cavaleiro, surgirá uma rivalidade-clichê com Roland (Gotz Otto), o melhor soldado do castelo e também um pretendente enciumado de Kyra.

E Grendel não se faz de rogado: alheio às tais intrigas, o monstro continua atacando toda noite, aparecendo e desaparecendo como que por mágica, ao mesmo tempo em que parece indestrutível às armas dos poucos guerreiros dispostos a enfrentá-lo. Será que Beowulf terá melhor sorte contra a ameaça?


BEOWULF foi dirigido pelo inglês Graham Baker, que tem uma pequena filmografia composta por conhecidos filmes divertidos e descartáveis como "A Profecia 3 - O Conflito Final", "Vìtimas do Desconhecido" e "Missão Alien" (1988, que foi provavelmente o ponto alto da sua carreira e rendeu até seriado de TV). Este aqui foi o último filme que Baker dirigiu, e o homem está sumido do mapa desde 1999!

Mas o grande culpado pelo resultado final não foi o diretor, e sim o produtor Kasanoff. Consta que Baker assumiu o comando do filme com a promessa de um orçamento de 25 milhões de dólares. Porém, durante as filmagens, a verba foi sendo cortada drasticamente. Segundo algumas fontes, o orçamento REAL teria sido de menos de 4 milhões (!!!), o que explica o ar de filme classe C da coisa toda (as filmagens aconteceram na Romênia, não só pelas belas paisagens, mas principalmente para economizar).


BEOWULF também deu azar de ter sido feito mais ou menos na mesma época de outra produção problemática, "O 13º Guerreiro", de John McTiernan, filme baseado no livro "Devoradores de Mortos", de Michael Crichton, que por sua vez é considerado uma releitura contemporânea (ou homenagem, se preferirem) ao poema "Beowulf".

Quando "O 13º Guerreiro", que era uma superprodução de 85 milhões de dólares, naufragou nas bilheterias (arrecadando menos de 30 milhões!), a Miramax decidiu não arriscar e cancelou o lançamento de BEOWULF nos cinemas, como estava inicialmente previsto. Assim, embora o filme tenha passado na telona em alguns poucos festivais europeus, acabou saindo direto em vídeo nos Estados Unidos.


Ainda que o filme tenha problemas evidentes, a adaptação "contemporânea" dos roteiristas Leahy e Chappe merece elogios, já que "Beowulf", o poema, é meio infilmável em versão integral. No texto original, Grendel ataca o palácio do Rei Hrothgar durante doze anos antes que o herói resolva se mexer para enfrentar a ameaça (e isso que ele vive a apenas um dia de viagem pelo mar!). Quando Beowulf finalmente resolve fazer alguma coisa pelos vizinhos, ele reúne 14 guerreiros de confiança e parte para o palácio assombrado, onde enfrenta e mata o monstro já na primeira noite, arrancando o braço de Grendel numa luta sem armas!!!

Na adaptação cinematográfica, fica claro que os ataques do monstro são coisa recente, e Grendel é representado como uma criatura monstruosa que usa camuflagem para "desaparecer", estilo Predador. Ao invés de ser derrotado por Beowulf já na primeira noite, ele continua aparecendo de repente para matar vítimas que insistem em perambular sozinhas pelo castelo - uma desculpa para as cenas de suspense e ação que o poema, obviamente, não traz!


Outra grande liberdade poética de BEOWULF é em relação ao personagem-título. Enquanto no poema ele é descrito como o típico guerreiro musculoso ao estilo Hércules ou Sansão, e sempre cercado por seus fiéis soldados, no filme o Beowulf de Lambert é uma figura mais trágica e solitária, uma espécie de anti-herói sempre vestido de preto e assombrado por questões existenciais - muito diferente do fortão bonachão do original.

Acontece que o Beowulf cinematográfico nasceu do cruzamento de uma mãe humana com o demônio Baal. Dividido entre Luz e Escuridão, ele está constantemente sendo tentado pelo seu "lado negro", e decide combater o Mal para evitar que ele mesmo passe para o outro lado (conforme justifica ao Rei Hrothgar no filme).

O fato de ser filho de um demônio também lhe garante algumas cartas na manga, como o poder de sobreviver a ferimentos graves e regenerá-los em tempo recorde, tipo o Wolverine. E, ao contrário do Beowulf do livro, que pode contar com 14 guerreiros, o do filme é uma alma amargurada e solitária que prefere enfrentar Grendel sozinho. Em alguns momentos, parece até que Christopher Lambert está interpretando o igualmente amargurado e solitário Connor McLeod, de "Highlander", novamente.


Na época do lançamento, BEOWULF foi destruído sem piedade pela crítica, principalmente por causa dessas inúmeras liberdades poéticas tomadas na "atualização" do texto clássico, mas também por causa da ambientação absurda e da direção de arte chapada.

Algumas resenhas resumiram o filme como "medíocre"; outras alegaram que "os filmes de gênero dificilmente ficarão mais idiotas do que este" (ah, se eles soubessem que dentro de alguns anos teríamos coisas como "Transformers" e "Avatar"...). Ninguém parece ter enxergado a aventura divertida e estúpida que Graham Baker dirigiu, e eu confesso que até me impressionei com o quanto BEOWULF era divertido quando finalmente resolvi assisti-lo; pelas críticas, já esperava a grande bomba do milênio.


Depois, eu até procurei ler várias dessas resenhas negativas para tentar entender o porquê de tanto ódio. E acabei me surpreendendo com o fato de muitas coisas que os críticos consideram pontos negativos representarem, pelo menos para mim, grandes acertos do filme! Porque se eu tivesse visto BEOWULF lá pelos meus 10 ou 11 anos, ele provavelmente se tornaria um clássico da minha infância como acabaram sendo "Os Caçadores de Atlântida" e "Fuga de Nova York"!

A ambientação e a direção de arte que misturam presente e passado, por exemplo, tornam a experiência muito mais interessante do que se a história se passasse apenas na Idade Média ou apenas no futuro. É como se "Army of Darkness" tivesse sido dirigido por Terry Gilliam; ou, para ser menos exagerado, um cruzamento entre "Mad Max 2" e "Excalibur".


O palácio meio medieval, meio industrial é um cenário incrível, assim como o design dos figurinos, objetos de cenas e principalmente armas (o Rei Hrothgar leva uma gigantesca espada serrilhada que lembra bastante uma motosserra, e os elmos lembram tanto capacetes de motociclista quanto escafandros de mergulhador!). Isso revela uma preocupação do diretor de arte em criar um universo excêntrico, sim, mas perfeitamente crível, onde passado, presente e até elementos futuristas convivem lado a lado.

Nesse aspecto, a trilha sonora eletrônica "moderninha" não soa tão deslocada quanto, por exemplo, a música de sintetizador de "O Feitiço de Áquila", de Richard Donner. Mesmo assim, o "tum-tum-tum" começa a incomodar os ouvidos depois da terceira ou quarta cena de ação ao som de tecno, quando você até começa a fazer uma analogia entre as múltiplas piruetas de Beowulf e alguém chapado de ecstasy dançando numa rave!


Muitas críticas da época também reclamaram do francês Christopher Lambert no papel principal. À época, Lambert já estava longe dos seus tempos de astro (com "Greystoke - A Lenda de Tarzan" e "Highlander", nos anos 80), e já começava o reinado nos filmes de ação direto para vídeo, muitos deles dirigidos por Albert Pyun.

Ao estrelar BEOWULF, Lambert deixou de repetir o papel de Rayden na primeira continuação de "Mortal Kombat". Assim, James Remar assumiu seu papel em "Mortal Kombat - A Aniquilação" (1997), e este filme é tão ruim que acho que o francês tomou a decisão certa.


Mas eu sou suspeito pra falar porque sou fãzaço de Lambert desde sempre, e acho que ainda chegará o dia em que ele será eleito o "ator que não sabe atuar" mais cool do Universo! Sua interpretação aqui é muito divertida, sempre com um sorrisinho cínico no canto da boca, de quem não está levando a coisa muito a sério.

E dando piruetas e saltos ornamentais durante as lutas como se fosse um ginasta olímpico (o astro é substituído por um dublê mais do que visível e que tem pelo menos 30 anos a menos). Por sinal, essas piruetas e pulinhos durante as lutas me lembraram as escalafobéticas cenas de ação do cinema trash turco!


Para o público masculino, BEOWULF traz ainda dois verdadeiros colírios para os olhos (além da já citada Patricia Velasquez, que infelizmente aparece pouco). Rhona Mitra está um espetáculo, e aparece o tempo inteiro vestindo corselets tão apertados que parece que seus peitões vão pular para fora do figurino a qualquer momento (acima). O que, infelizmente, fica só na ameaça.

Hoje, mais famosinha, a moça já declarou que se arrependeu de ter feito o filme e que teve uma experiência terrível na Romênia. O curioso é que ela escapou de filmar uma cena em que seria abusada sexualmente por Grendel, quando o diretor Baker achou que não havia lugar para isso na história. Mas cacilda, como é que o cara não arruma espaço para uma gostosa sendo estuprada por um monstro num filme como esse???

O outro colírio é a Coelhinha da Playboy Layla Roberts, que aparece "quase nua" (abaixo) como uma "súcubo" que no passado seduziu Hrothgar, e de cuja relação nasceu Grendel (em outra grande liberdade poética do roteiro em relação ao poema, onde o monstro era filho de... Caim, o famoso assassino do irmão Abel!!!). O resto do elenco é predominantemente masculino, então essas três belas (Rhona, Layla e Patricia) fazem a diferença no meio das "feras".


Fãs de podreiras vão gostar de saber que BEOWULF vai ficando cada vez mais maluco conforme a trama progride, e o auge da porra-louquice é quando a súcubo gostosa se transforma num HI-LÁ-RIO monstrengo gigante lovecraftiano (abaixo), produzido a partir da pior computação gráfica disponível na época! É bater o olho no bicho para começar a gargalhar sem parar, embora o restante do filme utilize efeitos práticos bem eficientes até. Grendel, por exemplo, é um homem num traje de monstro (Vincent Hammond, especialista em "interpretar" criaturas).

Vale destacar que o monstrão em CGI é outra criação exclusiva dos roteiristas Leahy e Chappe. No poema em que se inspiraram, Beowulf volta para a sua terra-natal após matar Grendel, é proclamado rei e, 50 anos mais tarde (!!!), enfrenta uma nova ameaça, dessa vez um dragão - que, felizmente, não aparece aqui e talvez tenha ficado para um futuro e nunca realizado "Beowulf 2"!


Mesmo bem longe de ser uma obra-prima, BEOWULF tem qualidades mais do que suficientes para ser lembrado por fãs de tranqueiras (principalmente a direção de arte inspirada, algo que não é tão comum em produções barateiras como essa).

As cenas de ação a cada 10 minutos também seguram o clima numa boa, e a duração de 95 minutos não chega a incomodar como outros épicos cinematográficos contemporâneos (tipo a série "O Senhor dos Anéis"). Assim, o filme é redondinho, curto e grosso, e funciona dentro das suas limitações.

Quase dez anos depois, em 2007, Robert Zemeckis fez aquela que muitas consideram a adaptação definitiva do clássico literário para o cinema, "A Lenda de Beowulf". Mas o fez em forma de animação, com atores famosos de Hollywood emprestando seus movimentos e feições para os bonequinhos de computação gráfica (Ray Winstone para Beowulf, Anthony Hopkins para Hrothgar e Angelina Jolie para a mãe de Grendel), e ambientando a história na época em que ela acontece originalmente no poema (lá pelo ano 500 d.C.).


Nunca vi essa versão do Zemeckis para tirar a prova, já que não sou muito chegado em animação computadorizada. Mas, sinceramente, duvido que seja tão divertida quanto a dirigida por Baker. Assim como duvido que o Beowulf de Winstone seja tão eficiente quanto o de Christopher Lambert, capaz de disparar bestas como se fossem pistolas automáticas e cruzar o cenário dando saltos mortais.

Se "só pode haver um", como Lambert vivia dizendo na série "Highlander", prefiro que este seja o Beowulf pobretão de 1999...

PS: Qual clássico da literatura brasileira também mereceria uma versão anabolizada tipo BEOWULF? Que tal uma versão pós-apocalíptica de "Grande Sertão: Veredas"? Ou um novo "O Guarani", em que o índio Peri lutaria contra seus inimigos usando artes marciais e ao som de música eletrônica? Peraí, melhor não dar ideia...


Trailer de BEOWULF - O GUERREIRO DAS SOMBRAS



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Beowulf (1999, EUA/Reino Unido)
Direção: Graham Baker
Elenco: Christopher Lambert, Rhona Mitra, Götz Otto,
Oliver Cotton, Layla Roberts, Vincent Hammond,
Patricia Velasquez e Charles Robinson.




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