DEATHSPORT (1978)
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DEATHSPORT (1978)



"No ano 3000 não existirá mais Jogos Olímpicos, Super Bowl ou Copa do Mundo. Só existirá DEATHSPORT!"

A frase do cartaz, o argumento do filme, o título, a presença de David Carradine e a produção de Roger Corman levam o espectador a acreditar que DEATHSPORT, ficção científica classe Z de 1978, seja uma seqüência direta ou ripoff do divertidíssimo "Ano 2000 - Corrida da Morte", dirigido por Paul Bartel, estrelado por Carradine e produzido por Corman três anos antes, em 1975.

Mas as semelhanças entre as duas produções, infelizmente, não incluem o quesito qualidade, e nem DEATHSPORT é uma continuação de "Ano 2000 - Corrida da Morte", como informam alguns desavisados sites de cinema. Na verdade, esta é uma tentativa de Corman de faturar mais uns trocados após o sucesso do filme de Bartel (esquecendo, porém, que um dos ingredientes de sucesso daquele pequeno clássico era o humor negríssimo, que não existe nesta nova aventura), e ainda plagiar um pouquinho "Rollerball", de 1975.


O que sobrou é mais um autêntico FILME PARA DOIDOS, que os leitores deste blog vão achar o máximo, mas a maior parte da humanidade vai odiar. Agora, convenhamos: como não achar no mínimo divertido um filme em que David Carradine e Richard Lynch lutam com espadas de plástico; em que a falecida coelhinha da Playboy Claudia Jennings fica a maior parte do tempo com os seios ou a perereca de fora; em que um ditador tirânico tortura garotas seminuas forçando-as a dançar numa sala eletrificada (!!!), e em que raios laser desintegram não só pessoas, mas também motos e cavalos???

DEATHSPORT se passa no ano 3000, quando uma "guerra neutrônica" (não pergunte...) reduziu a humanidade a um deserto povoado por mutantes canibais. Um dos únicos núcleos "civilizados" é Heliz City, governada com mão de ferro por Lord Zirpola (David McLean), que diverte o povo com lutas de gladiadores estilo Roma Antiga. É o chamado "Deathsport", em que prisioneiros são perseguidos por motociclistas que disparam os tais lasers mortais.


Neste mundo perdido, também existem guerreiros místicos (uma espécie de versão pobre dos Jedi de "Guerra nas Estrelas", lançado no ano anterior), que vagam pelo deserto armados com suas espadas de plástico. O mais famoso deles é Kaz Oshay, interpretado por um David Carradine barbudo e de sunguinha - o que não é exatamente minha idéia de diversão, mas vá lá.

Felizmente, a coisa começa a andar quando Kaz é aprisionado pelo braço direito do ditador, Ankar Moor (interpretado por Richard Lynch!), e levado à força para participar do Deathsport juntamente com outra guerreira nômade, Deneer (Claudia Jennings).

Só que, num daqueles casos clássicos de propaganda enganosa, o tal Deathsport, apesar de ser o título da película, não dura nem cinco minutos: Kaz e Deneer logo escapam da arena de volta para o deserto, pilotando motos roubadas de seus perseguidores, e acompanhados por outros dois prisioneiros. Começa, então, uma perseguição implacável liderada por Ankar, que quer o couro do herói a todo custo.


Se DEATHSPORT serve para alguma coisa (além de mostrar David Carradine de sunguinha e Claudia Jennings de perereca de fora), é como diversão trash. Este é o filme perfeito para você deixar rolando num daqueles encontros de amigos cinéfilos regados a muita cerveja. Dos cenários toscos e falsos aos figurinos ridículos, passando pelos efeitos sonoros de quinta categoria e pela obsessão do diretor em mostrar explosões a cada cinco minutos, tudo é motivo de piada no filme, que assim torna-se engraçadíssimo do começo ao fim.

Entre os destaques no "fator trash", vale destacar os cenários das cidades e da arena onde acontece o Deathsport, e que são obviamente cenários pintados ou miniaturas bem toscas. As cenas de malabarismos com motos, repetidas até enjoar, acabam sendo mais engraçadas do que emocionantes, em parte por causa da exagerada sonoplastia dos veículos. Tem ainda uma cena de sexo que dá um novo sentido à expressão "cena de sexo gratuita", e uma participação pequena e não-creditada da futura scream-queen Linnea Quigley.


E o que dizer do raio laser que desintegra pessoas inteiras num piscar de olhos? O engraçado é que nunca fica clara a intensidade da arma: numa cena o raio desintegra automaticamente dois inimigos que estão lado a lado sobre suas motocicletas (os veículos também são vaporizados); em outro, o raio atinge um ratinho sobre um monte de entulho, mas apenas o roedor desaparece, enquanto o monte de entulho fica intacto!

O grande problema do roteiro de Nicholas Niciphor (com o pseudônimo Henry Suso), Frances Doel e Donald Stewart é levar-se a sério, ao contrário do "Ano 2000 - Corrida da Morte" que tenta desesperadamente copiar. Não há humor negro nem sátira em DEATHSPORT; na verdade, seus realizadores parecem estar levando a coisa a sério DEMAIS! Assim, cenas com elevado potencial trash, como as inúmeras perseguições com motos, sempre ficam no meio-termo; embora bem filmadas e editadas, não são tão divertidas quanto poderiam e deveriam ser, e logo tornam-se repetitivas.

E o tal "Deathsport", que parece ser a grande razão de ser do filme (está no título, caramba!), aparece numa mera ceninha de cinco minutos! Todo o resto da trama mostra heróis fugindo dos vilões. Até mesmo uma cena num covil dos mutantes canibais aparece jogada ao léu, sem qualquer função na trama.


Mais divertido que o próprio filme é o barraco que rolou nos bastidores: DEATHSPORT começou a ser dirigido por Niciphor, mas ele e Carradine não se bicavam. Com metade das cenas gravadas, a frescura entre os dois acabou mal: o astro simplesmente quebrou o nariz do diretor com um soco!!! Niciphor então abandonou o set, com nariz sangrando e tudo mais, e Corman teve que dirigir ele mesmo algumas cenas, depois chamando o pupilo Allan Arkush (de "Hollywood Boulevard" e "Rock’n’Roll High School") para terminar o filme.

E mais: dizem as más línguas que as filmagens eram movidas a álcool e drogas, o que transparece no clima de doideira coletiva do filme. A pobre Claudia era viciada e morreu no ano seguinte num acidente de carro, com apenas 29 anos de idade.

É uma pena que DEATHSPORT seja tão obscuro que nem existam vídeos decentes disponíveis no YouTube para postar aqui, e que certamente divertiriam meus fiéis leitores do FILMES PARA DOIDOS. Espero que se contentem com as fotos e procurem por esta pérola.

Uma coisa é certa: para o bem ou para o mal, não se fazem mais filmes assim, e isso é uma pena - principalmente quando o mais perto de DEATHSPORT que temos hoje é o bobo "Corrida Mortal" de Paul W.S. Anderson!


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Deathsport (1978, EUA)
Direção: Nicholas Niciphor e Allan Arkush
(e Roger Corman)
Elenco: David Carradine, Richard Lynch,
Claudia Jennings, William Smithers, Will
Walker e David McLean.



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