DJANGO CONTRA 4 IRMÃOS (1971)
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DJANGO CONTRA 4 IRMÃOS (1971)



Você já percebe o nível de ruindade de DJANGO CONTRA 4 IRMÃOS somente pelos primeiros dois minutos do filme, que mostram o ataque de uma quadrilha de bandidos mexicanos a uma pequena cidade. Aos 30 segundos cravados, um sujeito leva um tiro de winchester e "interpreta", da forma mais exagerada possível, aquela rotina da pessoa atingida por um tiro que ainda fica de pé por alguns minutos antes de tombar; o problema é que um pobre figurante que passava pelo cenário pára, espera o "baleado" cair estatelado, e então volta a caminhar e segue seu rumo como se nada tivesse acontecido - sem prestar socorro ao baleado, ou ao menos sair correndo para não se tornar a próxima vítima! Depois, um "morto" caído no chão levanta a cabeça sem nenhuma discrição, talvez assustado com o movimento das patas de um cavalo que passa muito próximo, e a abaixa rapidamente ao perceber que a câmera ainda está rodando!

Sim, amiguinhos, dois erros grosseiros em dois minutos, e não pense que eles serão os únicos até o final dos 89 minutos deste sofrível "sotto-Django": temos ainda buracos gigantescos no roteiro, uma história inconsistente e cenografia e figurinos mais pobres que muito teatro de 5ª série, entre outras "qualidades" que fazem dessa bagaça aqui um legítimo FILME PARA DOIDOS.


Nada de muito surpreendente quando você dá uma olhada no nome do diretor nos créditos iniciais. Trata-se de ninguém menos que "Paolo Solvay" - ou melhor, Luigi Batzella (1924-2008), usando o mais comum dos seus diversos pseudônimos. Quem conhece um mínimo da filmografia do homem já sabe que não dá para esperar nada além de um trashão daqueles. Afinal, estamos falando do mesmo responsável por hilárias tranqueiras como o nazisploitation "La Bestia in Calore" (com sua impagável criatura que devora pêlos pubianos femininos!) e o inacreditável "Nuda per Satana".

Batzella (ou "Solvay") comandou DJANGO CONTRA 4 IRMÃOS quando o interesse pelas imitações de "Django" já era mínimo ou inexistente. Afinal, no ano anterior o famigerado Demofilo Fidani banalizou as aventuras não-oficiais do personagem ao dirigir dois Djangos de quinta categoria num curtíssimo espaço de tempo. Não bastasse isso, o público queria coisas novas, como as aventuras mais absurdas de personagens tipo Sartana, ou os westerns cômicos da dupla Terence Hill e Bud Spencer.


Não é por nada que DJANGO CONTRA 4 IRMÃOS é um dos mais fracos entre os "Sotto-Djangos", no mesmo nível de bobagens como "O Filho de Django" ou a (ironicamente) única sequência oficial do filme de Sergio Corbucci, "Django, A Volta do Vingador".

A bem da verdade, o que temos aqui é mais um faroeste barato e genérico onde o nome do personagem não influi em nada no resultado, pois se trocarmos o nome do herói de "Django" para "Maria das Dores" não fará a menor diferença - ou seja, os realizadores sequer tentaram copiar as características que fizeram do "Django" original um sucesso.


Como já foi dito/escrito, nossa história começa com uma quadrilha de bandidos mexicanos atacando a pequena cidade de Silver City. Trata-se do bando dos Cortez, quatro irmãos que se vestem como mariachis e são liderados pelo sinistro Ramon (Edilio Kim, exagerando nas caras e bocas maléficas). Eles matam metade da cidade e fogem levando uma fortuna em ouro do banco e uma linda refém, interpretada por Dominique Badou (de "Blindman").

Pouco depois disso (e dos créditos iniciais), um misterioso pistoleiro chega a uma cidade próxima, na fronteira entre os Estados Unidos e o México. Trata-se, claro, do nosso querido Django, nesta encarnação interpretado por Jeff Cameron (nome de batismo: Giovanni "Nino" Scarciofolo). Ocorre que Django está justamente perseguindo os Irmãos Cortez, por motivos pessoais e ignorados que só serão revelados no final (mas o FILMES PARA DOIDOS irá revelar daqui a alguns parágrafos, assim você não precisará esperar).


Para conseguir chegar até os perigosos bandidos, nosso herói une forças com dois esquisitos parceiros: o jogador de cartas Fulton (Gengher Gatti), que na verdade é um investigador do banco de Silver City enviado para recuperar o ouro roubado, e o brutamontes Pickwick (John Desmont), que quer recuperar a sela que herdou do falecido pai e que foi roubada (pelos Irmãos Cortez, claro!), surrando praticamente todo o elenco no processo.

Django também aproveita um raro momento de folga para seduzir a bela dona do saloon/pousada onde boa parte da história se desenrola, interpretada por Angela Portaluri (foto abaixo).


Se eu tivesse que resumir DJANGO CONTRA 4 IRMÃOS em uma única palavra, esta seria "bagunça". Há um fio narrativo mínimo no roteiro escrito a seis mãos (cof, cof, cof!) por Mario De Rosa, Gaetano Dell'Era e pelo diretor Batzella, mas este não se sustenta por 90 minutos.

Assim, o pobre Batzella foi obrigado a enrolar do jeito que dava. Isso inclui inúmeros takes dos personagens cavalgando, além de cenas de ação e pancadaria completamente gratuitas, que não acrescentam nada ao filme.


Por exemplo, quando Django entra no saloon da cidadezinha pela primeira vez, encontra Pickwick surrando todos os clientes do local numa pancadaria interminável em estilo pastelão, como se fosse uma espécie de Bud Spencer dos pobres. Uma das vítimas atingida por um sopapo do grandalhão vai parar na viga de sustentação do teto, o que dá uma ideia das proporções do quebra-quebra...

Pickwick passará o filme inteiro distribuindo pancadas no elenco, e lá pelas tantas chega a brigar com o próprio Django, que até então era seu companheiro de aventuras, sem nenhuma explicação plausível além da necessidade do diretor de enrolar para ter um longa-metragem nas mãos!


Mais adiante ainda, Django encontrará um assassino chamado Pedro Ramirez, com quem tentará unir forças, já que ele é um dissidente da quadrilha dos Irmãos Cortez e sabe onde eles se escondem. Porém esse "sub-plot" não levará a lugar algum, já que Pedro tentará matar o herói quase imediatamente e acabará comendo capim pela raiz, fazendo o espectador questionar qual seria a utilidade da sua existência na trama (e dos quase 15 minutos em que ele fica em cena).

Claro, a presença do personagem ganha outro status quando descobrimos que este é um dos raros trabalhos na frente das câmeras de Gianfranco Clerici, usando o pseudônimo americanizado "Mark Davis". Se você não reconheceu o nome, então o cinema fantástico italiano não deve ser sua praia: Clerici foi o roteirista de clássicos do horror como "Cannibal Holocaust", de Ruggero Deodato, e "The New York Ripper", de Lucio Fulci!


Além de não acrescentar nada de novo a um subgênero que estava bem próximo do seu canto de cisne, DJANGO CONTRA 4 IRMÃOS soa mais como um reaproveitamento tardio de elementos da "Trilogia do Dólar", de Sergio Leone, do que como uma imitação do "Django" de Corbucci.

Não bastasse o trio de personagens abertamente copiado de "Três Homens em Conflito" (onde Django seria Clint Eastwood, Pickwick seria Eli Wallach e Fulton, Lee Van Cleef), a cena final é uma cópia grosseira do início de "Por um Punhado de Dólares", quando, como Eastwood fez anos antes, Django pede que um coveiro prepare quatro caixões para os inimigos que pretende matar. E Batzella não perde nem a oportunidade de mostrar o "vilão final" sendo abatido a tiros e caindo dentro de um dos caixões, é claro!


Por mais descartável que seja (e é!), DJANGO CONTRA 4 IRMÃOS acaba se transformando rapidamente em comédia involuntária, graças à completa inépcia de Batzella como diretor. Além de todos os problemas já citados envolvendo a pobreza da produção, até os objetos de cena são de um improviso mambembe: quando o herói abre um velho relógio, por exemplo, seu nome está escrito no interior no que parece ser CANETA HIDROCOR PRETA, ao invés de gravado na própria peça!

A falta de cuidado se estende até ao corte de cabelo dos personagens principais e figurantes: enquanto o herói usa um penteado que parece meio comprido demais (e "hippie" demais) para os padrões do Velho Oeste, é difícil não dar risada ao ver o cabelo estilo afro usado por Gianfranco Clerici, com direito a longas e grossas costeletas dignas de Elvis Presley em sua fase "barrigudo em Las Vegas"!


As duas "revelações" da parte final do filme também ajudam a transformar tudo em comédia trash. Primeiro, descobrimos que um dos quatro Irmãos Cortez é, na verdade, uma irmã, Pilar, interpretada pela brasileira Esmeralda Barros (em papel de relativo destaque inclusive, diferente de sua participação especial em outro "Sotto-Django", o posterior "Um Homem Chamado Django"). O caso é que basta bater o olho na moça, mesmo travestida de homem, para perceber que se trata de uma mulher (confira na foto abaixo), mas o filme trata como grande surpresa o momento em que a "Irmã Cortez" é desmascarada!

A segunda reviravolta é aquela que citei lá em cima: bem no finalzinho, descobrimos que a linda garota anônima raptada pelos mexicanos é noiva de Django (!!!), justificando, assim, a caçada do herói - até então, todos pensavam que ele era um caçador de recompensas de olho no preço oferecido pela cabeça dos Cortez. Porém essa "revelação" não justifica a safadeza do nosso herói, que, mesmo com a noiva sequestrada e em perigo, passa a pistola na mexicana dona do saloon sem pensar duas vezes...


Para completar a patacoada, temos o Django qualquer nota de Jeff Cameron, que em nada lembra o personagem criado por Corbucci e foge de qualquer característica do original - ele também é arrumadinho demais para os padrões de Franco Nero ou mesmo de seus melhores seguidores, como Gianni Garko e Terence Hill. O herói é simpático, falastrão e pegador, mas não tem tiradas muito inspiradas nem protagoniza grandes feitos, tornando-se, portanto, um "Sotto-Django" nada memorável.

Falecido em 1985, Cameron (que, visualmente, lembra um Christopher Lambert jovem e não-vesgo) teve uma longa carreira nas aventuras italianas de gladiadores e, claro, nos westerns spaghetti. Embora tenha interpretado Django esta única vez, ele também foi Sartana em duas aventuras não-oficiais do personagem, "Sou Sartana... Venham em Quatro para Morrer" e "Sartana - A Sombra da Morte", ambas dirigidas por Demofilo Fidani.


Repleto de equívocos, e burocrático e convencional enquanto imitação de Django e western, DJANGO CONTRA 4 IRMÃOS só vale mesmo pela própria ruindade, tornando-se um daqueles hilários programas para os débeis mentais que, como eu, se divertem vendo cinema ruim e mal-feito.

Ou seja: quem gosta dos westerns de quinta categoria de diretores como Demofilo Fidani e Bruno Mattei certamente irá dar boas gargalhadas com esse também; quem não gosta, deve passar longe.


Na conclusão, uma ironia: Django anuncia que "O pior terminou e o melhor está apenas começando". Ele bem que pode estar se referindo ao próprio filme na parte do "O pior terminou". Mas considerando que este é apenas o primeiro dos três westerns dirigidos por Luigi Batzella, e o menos ruim e mais assistível da trinca, a parte do "O melhor está apenas começando" não se justifica!

PS 1: O título original italiano, em tradução literal, significa "Até para Django os Cadáveres Têm Preço".

PS 2: A exemplo de Demofilo Fidani, que costumava fazer dois ou três filmes com as cenas que filmou para um único, o malandrão Batzella depois reaproveitou diversas cenas desse filme num dos seus westerns posteriores, "O Colt Era Seu Deus" (1972), também estrelado por Jeff Cameron.


Trailer de DJANGO CONTRA 4 IRMÃOS



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Anche per Django le Carogne Hanno un Prezzo /
Django's Cut Price Corpses (1971, Itália)

Direção: Luigi Batzella (aka Paolo Solvay)
Elenco: Jeff Cameron, John Desmont, Gengher Gatti,
Esmeralda Barros, Edilio Kim, Dominique Badou, Franco
Daddi, Gianfranco Clerici e William Mayor.



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