SHOCKING DARK (1989)
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SHOCKING DARK (1989)



(Há alguns dias, um leitor comentou a ausência do mestre do trash italiano Bruno Mattei num blog com o nome "Filmes para Doidos". Esta resenha é uma maneira de tentar corrigir a injustiça. Espero que gostem, e em breve teremos mais Mattei por aqui!)

Oficialmente, James Cameron lançou seu blockbuster "Terminator 2" (no Brasil, "O Exterminador do Futuro 2") no ano de 1991. Foi um sucesso estrondoso, revolucionou a tecnologia dos efeitos especiais da época, e tal. O que Cameron provavelmente não sabe é que, dois anos antes, um bando de italianos picaretas lançou seu próprio "Terminator 2" - mas, com medinho de processo judicial, só o distribuiu com este título bem pouco honesto em alguns países da Europa, utilizando o mais genérico SHOCKING DARK para outros mercados fora do continente, como o Brasil.

E se James Cameron já teria motivos mais do que suficientes para processar os realizadores só pelo uso desonesto do título, fico imaginando qual seria a reação do cineasta caso ele tivesse assistido ao filme italiano - o que, provavelmente, nunca fez. Isso porque SHOCKING DARK nada mais é do que uma refilmagem disfarçada (ou bem pouco disfarçada, para ser sincero) de "Aliens, O Resgate", filme anterior do próprio Cameron, com os aliens sendo substituídos por monstros mutantes, e mais um cyborg assassino acrescentado à mistura apenas para justificar o título "Terminator 2"!


Lobby card do filme ainda com seu título picareta

Sim, amiguinhos, é muita picaretagem para um filme só, e portanto somente uma pessoa poderia estar por trás disso tudo: o único, o lendário, o mítico, o inesquecível, o insuperável, o mestre da sem-vergonhice, o rei da picaretagem, o primeiro e único... BRUNO MATTEI! Acredito que este seja um nome que dispensa apresentações, ainda mais para os leitores de um blog chamado "Filmes para Doidos", mas vou usar um parágrafo para fazer um rápido resumo da carreira do sujeito, para quem está chegando agora.

Bruno Mattei (1931-2007) foi um cineasta reconhecido popularmente como "Ed Wood italiano", e isso num país que já tinha diversos notórios realizadores de cinema trash, como Demofilo Fidani e Alfonso Brescia. Não tem comparação: o velho Bruno foi, fácil fácil, o pior dos piores. Seus filmes não apenas trazem problemas graves de roteiro, continuidade e erros grosseiros que deixariam até o próprio Ed Wood envergonhado, eles também são caracterizados pela completa falta de vergonha na cara, copiando roteiros, cenas, personagens e diálogos de grandes filmes de Hollywood sem nenhum pudor.


Sabe-se que os italianos adoravam copiar o que fazia sucesso fora do seu país. Quando "Mad Max" começou a ganhar dinheiro, a italianada produziu diversos clones, assim como versões macarrônicas de "Tubarão", "Star Wars", "Conan", "Rambo", "O Exorcista", filmes de zumbis, e etc. Mattei levava essa picaretagem um nível adiante: ele não apenas fazia produções parecidas com essas que faziam sucesso lá fora, ele as REFILMAVA com atores e equipe italiana!

É o caso desse "Terminator 2": o roteiro de Claudio Fragasso (usando seu tradicional pseudônimo "Clyde Anderson") é uma cópia tão cuspida e escarrada da trama de "Aliens, O Resgate" que parece até que ele pegou o roteiro original de Cameron e apenas mudou os nomes e a ambientação do espaço para a Itália - afinal, ali era mais fácil e mais barato de filmar.



SHOCKING DARK faz parte de uma das fases mais barateiras da carreira de Mattei, quando ele estava sendo produzido pela Flora Films, de Franco Gaudenzio, e fazia vários filmes por ano, mas com orçamentos que parecem ter diminuído do pouco habitual para o praticamente nada. São dessa mesma época presepadas como "Zombie 3" (1988), em que Mattei foi chamado às pressas para substituir um enfurecido Lucio Fulci e concluir o filme, e "Robowar - A Caminho do Inferno" (também de 1988), uma refilmagem disfarçada de "Predador", trocando apenas o alienígena por um cyborg assassino!

Bem, quero deixar bem claro que, a partir de agora, vou praticamente contar o filme inteiro. É impossível escrever sobre uma obra de Bruno Mattei sem destrinchá-la de cabo a rabo, mas acredito que saber de antemão o que vem pela frente apenas tornará mais divertida a experiência de assistir o filme, para aqueles que ainda não o conhecem.


SHOCKING DARK começa com cenas de soldados armados e usando máscaras anti-radiação marchando em frente a uma placa que diz "Limite da cidade de Veneza". Em seguida, enquanto rolam cenas de prédios em escombros, um narrador nos informa que, em algum momento depois do ano 2000, uma nuvem tóxica de poluição destruiu completamente a cidade italiana de Veneza, matando todos os seus habitantes e transformando-a em um local inabitável. "Veneza, agora, é uma cidade morta", declara.

Nesse mundo do futuro, uma poderosa empresa chamada Tubular Corporation (uma espécie de versão pobre da Weyland/Yutani, da série "Alien") construiu um enorme túnel subterrâneo que liga a cidade-fantasma de Veneza ao restante da civilização. Ali, cientistas da companhia fazem experiências e buscam uma forma de despoluir a cidade arrasada, para torná-la novamente habitável. Todas essas informações são passadas ao espectador na forma de diálogos expositivos didáticos, quando os personagens praticamente param a ação para explicar as coisas tintim por tintim.


A ação começa na central operacional do túnel subterrâneo (uma grande sala cheia de monitores, botões coloridos que piscam e sujeitos zanzando de um lado para o outro sem fazer nada de muito útil). Chega uma mensagem de S.O.S. vinda do laboratório que faz as experiências em Veneza: pelas câmeras e via sinais de rádio, soldados e cientistas aparecem gritando por socorro antes de serem mortos por estranhas criaturas. Finalmente, uma gravação do cientista que chefiava as pesquisas, o dr. Henry Raphelson (Al McFarland, único filme), resume tudo: "Estamos condenados à morte!".

Para investigar o que está acontecendo, e resgatar cientistas e material de pesquisa do laboratório, é designada uma equipe de bem-treinados mercenários que se auto-denominam "Mega Force" (dã!). Na verdade, não passam de uns manés usando capacetes de motoboy e jaquetinhas afrescalhadas que não oferecem nenhuma proteção em caso de combate, levando como armamento apenas umas espingardas ao invés de metralhadoras, fuzis ou, sei lá, armas laser - a história se passa no futuro, não é?!?


Para tornar tudo mais engraçado, o tal Esquadrão Mega Force é uma cópia xerox e macarrônica dos soldados do filme "Aliens, O Resgate": o comandante Dalton Bond (Mark Steinborn) é o comandante Hicks, que foi interpretado por Michael Biehn no filme de James Cameron; Koster (Geretta Geretta, de "Demons" e "Ratos") é uma soldado machorra idêntica a Vasquez (Jenette Goldstein) em "Aliens"; a cientista Sarah Drumbull (Haven Tyler, que só fez este filme) é a versão italiana da tenente Ripley interpretada por Sigourney Weaver (e o que lhe falta em talento, lhe sobra em semelhança física com a atriz nova-iorquina, único motivo pela qual ela deve ter sido escalada).

Finalmente, a missão de resgate também conta com um representante da Tubular Corporation, interpretado por Christopher Ahrens, e que logo se revela o vilão da trama, exatamente como Carter Burke (interpretado por Paul Reiser), o representante da Weyland/Yutani em "Aliens"! Segurem o riso, mas o nome do personagem de Ahrens é Samuel Fuller (!!!), provavelmente numa duvidosa homenagem ao cineasta cult responsável por filmaços como "Paixões que Alucinam" e "Agonia e Glória". Tenho certeza que o verdadeiro Fuller deve ter adorado a "citação"...


Ahrens interpreta seu Samuel Fuller sem mover um único músculo da face ou mudar de expressão, e geralmente isso seria algo comum nos filmes de Bruno Mattei - já que direção de atores não era exatamente o forte do mestre. Aqui, entretanto, a interpretação robótica do ator tem outro propósito (o filme se chama "Terminator 2", lembra?).

Pois Samuel Fuller é um cyborg infiltrado no grupo para resgatar informações confidenciais do laboratório da Tubular Corporation, em algo que remete tanto à série "Alien" (lembra dos personagens andróides Ash e Bishop, nos dois filmes lançados até então?) quanto a "O Exterminador do Futuro". Afinal, não deve ser coincidência o fato de a protagonista se chamar Sarah, como a Sarah Connor de Linda Hamilton no filme de James Cameron...


Voltando ao filme, este excêntrico grupo de personagens passa o resto do tempo percorrendo o enorme e escuro túnel subterrâneo em sua "missão de resgate", e o cenário é sempre igual, não importa o quanto nossos heróis caminhem. Os produtores certamente economizaram uma boa graninha na direção de arte, já que os atores parecem estar vagando pelo mesmo trecho de uma fábrica abandonada qualquer.

Não demora para que eles comecem a ser atacados por criaturas monstruosas e pessimamente confeccionadas, que parecem um cruzamento entre os monstros dos filmes "A Ilha dos Homens-Peixe", "Humanoids from the Deep" e "O Monstro do Pântano". A fantasia inexpressiva inclui uma bocarra enorme de onde sempre escorre baba (mais uma "citação" a "Aliens"?) e olhos vermelhos que não se movem. Mattei sabia que os efeitos eram precários, e por isso prefere filmar apenas detalhes dos monstros, ou então seus vultos na escuridão, evitando mostrá-los de corpo inteiro e na luz para não passar (ainda mais) vergonha!



A partir do primeiro ataque dos monstros, SHOCKING DARK passa a seguir "Aliens" tão fielmente que devia ter sido originalmente batizado como "Aliens, O Regresso" ao invés de "Terminator 2". (A bem da verdade, no Japão ele foi distribuído com o título "Aliennators" justamente por causa dessa suspeita semelhança com o filme de Cameron!)

E se você duvida que o plágio possa ser assim tão desavergonhado, confira:

* Não demora para os soldados encontrarem a única sobrevivente da equipe de cientistas, uma garotinha chamada Samantha (Dominica Coulson, versão italiana da garotinha Newt, interpretada por Carrie Henn em "Aliens"), que é adotada por Sarah como parceira e "filha" (o que também acontecia em "Aliens").


* Há um plágio constrangedor da cena com o detector de movimento em "Aliens", quando o equipamento acusa vários alienígenas aproximando-se do local onde os heróis estão. A cena foi reproduzida praticamente do mesmo jeito, com um soldado segurando o detector e gritando apavorado: "Eles estão se aproximando a 10 metros, 9, 8 metros, 7, 6, 5 metros!!! Meu Deus! Eles estão em cima de nós!!!". A diferença é que, no filme de Cameron, os monstros aparecem de repente atravessando o piso, enquanto aqui as criaturas mutantes simplesmente pipocam de lugar nenhum, mesmo que um plano geral anterior mostrasse claramente que não havia nenhum monstrengo escondido ali.

* Outro plágio constrangedor: Sarah e Samantha são trancadas em uma sala por Fuller na companhia de um dos monstros. O vilão então desliga a câmera de vigilância do local para que ninguém possa socorrê-las (Burke fez a mesma coisa com Ripley em "Aliens"!).


Claro que SHOCKING DARK não se baseia apenas no plágio puro e simples, caso contrário não seria uma típica produção da dupla Mattei-Fragasso. Eis que, lá pelas tantas, o arremedo de roteiro perde completamente a coerência e entrega, de bandeja, uma bobagem atrás da outra.

Uma cena maravilhosa envolve dois dos fuzileiros fazendo uma ronda por um corredor escuro, de onde as criaturas mutantes podem pipocar de uma hora para a outra. Subitamente, sem aviso prévio, a soldada machorra Koster pára, abre a blusa, tira uma fotografia que aparentemente guardava no meio dos peitos e mostra para o parceiro, comentando algo do tipo: "Veja, assim era a antiga Veneza. Pode ficar para você, eu tenho outras cópias" (e se essa estava no meio dos peitos, fico imaginando onde ela guarda as cópias). Troca de fotos concluída, ela diz: "Ok, agora vamos continuar nossa ronda". Uma cena que evoca certo drama e nostalgia, mas que não poderia ter sido incluída em lugar pior e no momento mais equivocado!


Outra pérola: os "heróis" ficam presos numa sala escura e são cercados pelos monstros. Sarah corre até a porta de saída, onde há um painel com dois botões amarelos, um do lado do outro. Ela começa a apertar repetidas vezes o primeiro botão, mas a porta não abre. Desesperada, ela chora, grita e continua apertando o maldito botão e socando o painel, enquanto seus colegas lutam ferozmente contra os monstros.

Cerca de cinco minutos depois, quando quase todo mundo já morreu pelo menos umas 15 vezes, Fuller grita para Sarah: "É o botão errado! Aperte o botão do lado!". Dito e feito: como se estivesse enxergando pela primeira vez o segundo botão, que fica IMEDIATAMENTE AO LADO daquele que ela apertava repetidamente até então, a pouco inteligente mocinha (que calha de ser uma cientista, vejam só...) finalmente resolve testar o segundo botão, e aí a porta finalmente abre e todos conseguem fugir! E não, eu não estou brincando!



Mas nem tanta ruindade pode preparar o espectador para as "reviravoltas" no roteiro de Fragasso. Perto do final, os heróis que sobrevivem aos ataques das criaturas finalmente chegam ao seu destino, o tal laboratório de pesquisas. Lá, uma mensagem gravada mostra uma moça bem humorada "entregando o ouro para o bandido", como se diz popularmente, explicando como a Tubular Corporation envenenou propositalmente Veneza para que pudesse resgatar seus bens e riquezas anos mais tarde! A gravação termina com a moça pedindo "sigilo absoluto" para quem quer que a tivesse assistido. Uma atitude muito inteligente essa de deixar gravada a sua confissão de culpa num caso de extermínio em massa, para que qualquer um possa encontra e escutar, não é mesmo?

E ainda tem a "revelação" sobre os monstros, que não são alienígenas, como as criaturas de "Aliens, O Resgate", mas sim o resultado de uma bizarra experiência genética conduzida pela Tubular. Aparentemente, os cientistas criaram um vírus que se espalha pelo ar e precisa de hospedeiros humanos; uma vez dentro do organismo, ele "transforma" pessoas em novas criaturas - os tais monstros. Fuller explica isso primeiro naquele linguajar "científico-enrolation" típico dos filmes de ficção científica de quinta categoria: "É uma enzina similar ao DNA, completamente redesenhada por computador. Uma obra-prima da engenheria genética, a cibernética aplicada à biologia molecular!". Depois, simplifica: "É como um disquete, você insere no computador e ele toma vida". "Mas que computador?", questiona Sarah, e o macabro agente da Tubular Corporation responde: "Nós!".


No momento em que toda a "verdade" é descoberta, SHOCKING DARK finalmente deixa de plagiar "Aliens" e vai buscar "inspiração" em "O Exterminador do Futuro", para assim justificar seu título picareta. É quando Samuel Fuller finalmente se revela um cyborg indestrutível, incluindo o tradicional discurso prepotente: "Eu sou a criação mais perfeita da Tubular Corporation", anuncia, antes de começar a matar todo o restante do elenco. Só me foge à compreensão porque ele não matou todos ANTES que descobrissem a verdade!

Mattei faz questão de incluir uma cena onde Sarah atinge o rosto de Fuller com uma garrafa quebrada, só para poder mostrar o cyborg com metade da cara robótica, tipo Schwarzenegger no final de "O Exterminador do Futuro". Mas é óbvio que os efeitos de maquiagem não chegam nem perto da produção norte-americana. Pior: todos os tiros e pancadas que o cyborg levou até então não lhe provocaram o menor arranhão, mas uma simples garrafa quebrada consegue arrancar-lhe metade do rosto! Pena que Sarah Connor nunca descobriu esse ponto fraco dos Terminators na série oficial...


E quando você acha que a coisa não pode ficar mais tosca e imbecil, o roteiro dá um jeito de encaixar uma máquina do tempo na trama. Exato: uma máquina do tempo! E se a tal Tubular Corporation tem tecnologia tão avançada para construir algo assim, fico imaginando qual a lógica de envenenar Veneza para poder saqueá-la anos depois, quando poderiam simplesmente voltar no tempo e saquear os tesouros dos faraós, por exemplo.

Ah, desculpem pelo engano: na verdade, a Tubular Corporation não tem uma, mas DUAS cápsulas do tempo. Acontece que Sarah e Samantha entram na primeira para fugir do cyborg indestrutível, indo parar na Veneza do passado, antes da contaminação. Mas aí Fuller aparece subitamente na mesma data para continuar a persegui-las, e ainda justifica: "Havia duas cápsulas, eu entrei na outra". Só não me perguntem como ele sabia o local e data exata para onde as moças viajaram!


Com tanta doideira, confesso que chego a vislumbrar o "processo de criação" de um roteiro de Claudio Fragasso: simplesmente adicionar numa mesma história todos os elementos que faziam sucesso nos filmes daquela época, tipo os soldados de "Aliens", o cyborg assassino de "Terminator", a máquina do tempo de "De Volta para o Futuro", o grito dos humanos replicados em "Invasores de Corpos" (numa cena que, aqui, não faz o menor sentido!)...

Mas, aparentemente, SHOCKING DARK foi a gota d'água, marcando a última parceria do roteirista com seu diretor mais contumaz, Mattei, que havia começado em 1980 (com "A Monja de Veneza" e "Predadores da Noite") e se mantido durante 15 filmes. A partir de então, eles se separaram e cada um seguiu seu caminho. Fragasso não melhorou muito, já que abandonou a parceria com Mattei para escrever e dirigir suas próprias bombas, como "A Terceira Porta do Inferno" (1989) e aquele que é considerado um dos piores filmes de todos os tempos, "Troll 2" (1990) - outra produção que, a exemplo de SHOCKING DARK, é sequência apenas no título.


Não sei qual foi o motivo para o fim do casament... ops, parceria entre Mattei e Fragasso, mas este é, disparado, um dos piores filmes realizados pela dupla (ou melhores, dependendo do ponto de vista). A direção do velho Bruno revela-se inepta como sempre, e ele assina o filme com seu tradicional pseudônimo "Vincent Dawn", duvidosa homenagem a George A. Romero e "Dawn of the Dead" que ele adotava em seus filmes de ficção científica e horror.

O curioso é que o diretor assina também a edição (ele começou sua carreira como editor, e continuou exercendo a função em quase todos os seus filmes), mas o faz com um segundo pseudônimo, "J.B. Matthews", talvez para que a equipe técnica de SHOCKING DARK parece maior do que realmente é!


Com Mattei em dose dupla (dirigindo e editando), o resultado é duas vezes mais bobagens! Numa cena em que vários monstros atacam os heróis, por exemplo, o velho Bruno reutilizou as mesmas cenas das criaturas levando tiros para dar a idéia de que existem "dezenas" delas, e não duas ou três. Só o take em que um dos monstros leva um tiro e bate contra uma parede é repetida pelo menos CINCO vezes, como se fossem criaturas diferentes! Mattei também reaproveitou vários takes de explosões de um de seus filmes anteriores ("Double Target", 1987) para economizar uns trocos na cena do túnel explodindo. Chega a ser engraçado que a explosão aconteça num túnel subterrâneo, mas o filme mostre uma base ao ar livre explodindo!!!

SHOCKING DARK também está repleto de erros grosseiros de continuidade, como numa cena em que Fuller e Sarah conversam. No plano aberto, percebemos que Fuller está à esquerda e Sarah à sua direita. Porém, nos takes mais fechados que mostram apenas Sarah falando, ela aparece virada tanto para a esquerda quanto para a direita! Como se percebe, o título de "Ed Wood italiano" foi conquistado por mérito, e não num sorteio!


Como picaretagem pouca é bobagem, lá pelas tantas você começa a pensar que já ouviu a trilha sonora do filme em algum lugar. Os créditos informam que a música foi composta por Carlo Maria Cordio, mas os realizadores também aproveitaram trechos de músicas do famoso músico grego Vangelis (aquele mesmo que compôs músicas usadas nas trilhas de filmaços como "Blade Runner"), sem pagar sequer um trocado pelos direitos autorais!

Resumindo, SHOCKING DARK é um daqueles filmes impagáveis que poderiam rivalizar com "Plan 9 From Outer Space" pelo título de "pior de todos os tempos" - aliás, para ser honesto, "Plan 9" parece "Cidadão Kane" perto de tosqueiras como esta. Ainda que não esteja entre as obras mais divertidas de Mattei ("Ratos" e "Predadores da Noite" são muito "melhores"), trata-se de uma tralha esdrúxula e muito engraçada para os iniciados nesse tipo de cinema, que certamente vão se divertir muito identificando as "referências" (maldosos chamarão de plágio).


Infelizmente, o título original de "Terminator 2" e o cartaz que imita vergonhosamente o cyborg de Schwarzenegger em "O Exterminador do Futuro" (sendo que não há sequer cena parecida no filme) limitaram bastante a carreira da obra mundo afora, graças ao medo de processo por excesso de malandragem. Consta que o filme nunca foi devidamente lançado nos Estados Unidos. Mesmo no restante do mundo é um tanto difícil de ser encontrado: SHOCKING DARK foi filmado em 1988, finalizado em 1989, mas lançado comercialmente apenas em 1990. No Brasil, saiu em vídeo pela distribuidora Condor, sem chamar muito a atenção (e com crítica demolidora no Guia de Vídeos Nova Cultural).

Hoje, não existem cópias decentes em circulação, e o mais perto disso é um LD lançado no Japão, com imagem escura e legendas fixas. Como a fotografia originalmente já era bem escura, o espectador é obrigado a forçar a vista para tentar enxergar alguma coisa - sem sucesso, na maior parte do tempo. E só podemos sonhar com uma versão decente e remasterizada da obra, que até hoje não saiu sequer em DVD!


O irônico é que SHOCKING DARK também marca o canto de cisne da indústria italiana da picaretagem, já que, a partir dos anos 90, começou a ficar cada vez mais difícil produzir esse tipo de filme no país, e os diretores de cinema fantástico tiveram que ou se aposentar, ou trabalhar na TV italiana (fazendo dramas históricos e aventuras inofensivas, bem diferentes do que se produzia até então).

O heróico Mattei continuou na ativa, e nos anos 2000 até tentou liderar um revival do cinema exploitation italiano: com produção de Giovanni Paolucci e sua La Perla Nera Productions, o diretor fez mais de 15 filmes de gênero num curto espaço de tempo, todos filmados em vídeo digital e com um orçamento ainda menor do que aqueles que tinha nos anos 1980.

"A Tubular Corporation aprova esta resenha."

Ele até tentou ressuscitar filões bem-sucedidos do passado, como filmes de zumbis ("L'isola dei Morti Viventi" e "Zombies - The Beginning", respectivamente em 2006 e 2007), de canibais ("Land of Death" e "Mondo Cannibale", em 2003 e 2004) e até de mulheres na prisão ("The Jail: The Women's Hell", 2006), mas os tempos eram outros, mais frescos, e a estratégia não deu muito certo.

Bruno Mattei, o Ed Wood italiano, morreu em 21 de maio de 2007, vitimado por um tumor cerebral. E o mundo tornou-se um lugar muito menos divertido desde então.


Trailer de SHOCKING DARK



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Shocking Dark / Terminator 2 (1989, Itália)
Direção: Vincent Dawn (Bruno Mattei)
Elenco: Haven Tyler, Christopher Ahrens, Geretta
Geretta, Fausto Lombardi, Mark Steinborn, Clive
Riche, Dominica Coulson e Massimo Vanni.



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